Um comportamento comum que acontece com muitos actores em desespero é procurarem papeis arriscados, mas que o são apenas por envolverem nudez ou outros sensacionalismos gratuitos, para procurarem fugir a uma imagem criada da qual não conseguem descolar. Aconteceu recentemente, por exemplo, com Dakota Fanning, que queria provar que já não era uma criança, e atirou-se a Hounddog, com nudez e violação; e aconteceu agora com Sarah Silverman, para mostrar que é mais actriz do que uma simples comediante.
Sarah Silverman é conhecida pelos seus números de stand-up, por alguns filmes para rir e, claro, por andar a foder o Matt Damon. Em I Smile Back, a norte-americana prova que é também uma actriz de corpo inteiro, sem medo do registo dramático e de expor. Há maminhas, há sexo, há drogas, há masturbação, há adultério, há daddy issues… enfim, há o pacote completo. Só é pena não haver um filme a sério para suportar tudo isto.
Sarah Silverman é então uma mãe em processo de auto-destruição. Apesar da vida aparentemente equilibrada e feliz, bem casada, com dois filhos e uma casa grande (só não parece ter trabalho, mas isso é mais um das mil e uma coisas que nunca é dito, não por economia narrativa, mas pura e simplesmente por omissão), Silverman está a ter um caso com um amigo de família casado, dá na coca à grande, mistura-o com comprimidos, bebe que nem uma esponja e, de quando em vez, tem sexo ocasional com homens aleatórios.
Depois isso termina, vai para reabilitação e é colocada na mesa a carta da saúde mental. São tudo cartas que vão sendo empilhadas, como se fossem trunfos que o realizador Adam Salky vai lançado de forma regular, mas que não obedecem a qualquer critério. A vertigem pelo abismo de Sarah Silverman nunca é explorada e tudo é, pura e simplesmente, sensacionalismo barato, ilustrado por um par de dúvidas existenciais sobre a condição humana.
Contudo, Sarah Silverman entrega-se de corpo e alma ao papel e dá tudo por tudo, num tour de force que não deixa o filme naufragar. Ganhou-se actriz, perdeu-se um Happy Meal, que fica metade por comer. Só é pena que, se calhar, são poucos os que vão ver o filme e convidar Silverman para outro papel a sério.
Título: I Smile Back
Realizador: Adam Salky
Ano: 2015