| CRÍTICAS | Mortal Kombat

No início dos anos 90, no topo do mundo, os Guns n’ Roses entraram num processo de auto-destruição, que levou ao desmembramento gradual da banda. O disco sucessor de The Spaghetti Incidente? entrava assim num limbo de adiamentos constantes, enquanto Axl Rose gravava dezenas de canções, com dezenas de convidados, alterava o alinhamento da banda n vezes e passava por tantos estúdios quantas camisas tinha no armário. Chinese Democracy veria a luz do dia em 2007, ou seja, 10 anos depois, tornando-se no álbum mais caro da história do rock. E, como seria de prever, revelou-se ser uma bela merda.

Mais ou menos na mesma altura, Mortal Kombat era também o jogo de computador (atenção ao itálico do artigo definido). Um jogo de porrada que se destaca pela fluidez de movimentos, pelas personagens icónicas e, especialmente, pelo carácter gore e sangrento. Em 1995, o jogo chegava ao cinema e a adaptação Combate Mortal abria as portas às adaptações cinematográficas de jogos de computador (e à carreira de Paul W. S. Anderson). Uma sequela dois anos depois seria, no entanto, um fiasco, colocando os planos de uma trilogia em banho-maria. Entretanto haveriam de surgir planos para um reboot à série, os contratos foram assinados, mas divergências quanto ao orçamento levou a que Mortal Kombat andasse em constantes adiamentos por mais de 10 anos, acabando por estrear finalmente em 2021. E, como seria de prever, revelou-se ser uma bela merda.

O que é que a semelhança entre o processo destas duas instituições dos anos 90 quer dizer? Não sei, fica ao vosso critério. Mas pareceu-me ser uma óptima introdução ao texto sobre Mortal Kombat, o filme que tenta começar de novo o legado dos violentos jogos de computador de porrada, mantendo no entanto a theme song do filme original. O que, no fundo, é a única coisa que, quem apenas viu o filme nessa altura, se lembra.

Mortal Kombat começa como um filme de samurais. No Japão feudal, aquele que iremos conhecer como Sub-Zero (Joe Taslim) ataca aquele que ficará conhecido como Scorpion (Hiroyuki Sanada), matando-o com uma facada no ombro(!) depois de assassinar toda a sua família. É um início promissor, com uma coreografia bem esgalhada e perceptível, o que é cada vez mais raro no cinema de acção da actualidade. Depois, inicia-se a viagem descendente a alta velocidade.

O filme salta então para a actualidade e entra na habitual história do lendário torneio Mortal Kombat, uma espécie de kumité sobrenatural (não é por acaso que uma das personagens do jogo original era baseado em Frank Dux, essa personagem lendária que deu origem a Força Destruidora) em que os campeões da Terra têm que lutar com os campeões do Outworld. No entanto, o realizador Simon McQuoid sente necessidade de encher chouriços com um sub-enredo em que os deuses do Mal preferem tentar matar os terráqueos antes do torneio, porque… sabe-se lá porquê.

Mortal Kombat torna-se assim no filme de porrada genérico #593, com muita cena de pancadaria pouco inspirada, momentos entre o ridículo e o wtf (como Sub-Zero a atacar o protagonista, Lewis Tan, com uma chuva de granizo… uhh, assustador!) e muitos cenários místico-sobrenaturais. Kano (Josh Lawson) tenta ser o comic relief e a personagem odiável, que se torna adorável, mas é apenas irritante; e todos os secundários são apenas personagens de papel, que estão ali para os maluquinhos do jogo os reconhecerem. Há ainda CGI à barda e, claro, a recriação das famosas fatalities, com um gore totalmente despropositado quando comparado com o resto do tom do filme. Pouca coisa de interesse a reter neste Happy Meal.

Título: Mortal Kombat
Realizador: Simon McQuoid
Ano: 2021

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