| CRÍTICAS | Caminho para a Glória

A Disney sempre gostou de histórias de patinhos feitos e de undersdogs desportivos, especialmente aquelas que foram reais. Isso porque Jamaica Abaixo de Zero foi um sucesso e, claro, a Disney gosta de tudo o que lhe dê lucro. Por isso, tem adaptado várias histórias inspiradoras do desporto, como é o caso deste Caminho para a Glória ou O Melhor Jogo de Sempre. Infelizmente (ou felizmente, conforme o ponto de vista), escapou-lhes às garras o Eddie, A Águia.

Caminho para a Glória é a história real dos Texas Miners, a equipa de basquetebol universitária que mudou a história do jogo quando, em 1966, liderados pelo treinador Don Haskins (Josh Lucas), sagraram-se campeões com uma equipa de jogadores negros. Até então estes eram vistos como jogadores menores, que não aguentavam a pressão(!), e que estavam mais nos planteis como curiosidade do que como outra coisa qualquer. Aliás, a regra tácita era um jogador negro em campo nos jogos em casa, dois nos jogos fora e três se o jogo estiver perdido.

Estamos a falar de uma época de emancipação dos direitos da comunidade negra e, como tal, Caminho para a Glória, além de um filme desportivo inspirador, é também uma história de cunho político e humanista, que ressoa ainda mais forte hoje em dia do que em 2006, quando foi feito. Afinal de contas, o filme é ambientado na América do Trump, onde o racismo era mais forte e a segregação se manteve durante mais tempo.

Temos então uma história nobre e de valor, mas aligeirada pela mão habitual mão da Disney e dos seus filmes para toda a família. Não é que o racismo do filme seja higienizado – existe um espancamento e uma cena de invasão da privacidade dos quartos dos jogadores que é particularmente duro -, mas é sempre apenas um obstáculo que é apenas ultrapassavel com a união, muita vontade e muito querer.

Mas esse acaba por ser o problema de todo o argumento, em que acaba por ser esplanado numa luta entre o bem e o mal. Para isso, as personagens são apenas um herói colectivo que se move em conjunto e é por isso que qualquer personagem secundária – como a mulher do treinador; Emily Deschanel – esteja lá apenas para fazer o que faz a mesinha de cabeceira do meu quarto: decorar. É uma corrida de obstáculos que a equipa vai ultrapassando graças à irmandade de todos e que vão sendo espalhados ao longo do filme, para serem deixados para trás rapidamente: um problema cardíaco de um dos jogadores importantes, a falta de motivação, as más notas de outro dos jogadores…

Em contrapartida, Caminho para a Glória consegue contar a sua história de forma escorreita, por um tarefeiro que não inventa, mas também não engonha. E, sendo um filme de basquetebol, é nas partidas que tem os seus momentos altos. E desporto nem sempre é fácil de filmar. No entanto, fora um par de momentos mais gloriosamente exaltados, a coisa é feita de forma excitante e com critério, atirando-nos para dentro do jogo com a suspensão da crença suficiente. Há motivos suficientes para encomendar este McChicken.

Título: Glory Road
Realizador: James Gartner
Ano: 2006

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