| CRÍTICAS | Motherland

O ano é 1992 e a Lituânia é uma recente nação, depois de se ter libertado da União Soviética. Vikotirija (Severija Janusauskaite), que havia escapado para o liberalismo capitalista dos Estados Unidos durante a adolescência, regressa pela primeira vez à sua terra natal (daí o título do filme, Motherland), para visitar a família, rever a pátria e tentar recuperar o terreno dos pais, que entretanto fora tomado pelos russos.

Baseado nas suas próprias experiências e recordações de adolescente do realizador Tomas Vangris, de quando viajou com a mãe dos Estados Unidos para a sua Lituânia natal de que não se lembrava, Motherland é uma espécie de coming of age pouco convencional. Kovas (Matas Metlevski), o filho a entrar na adolescência, até começa por flirtar com as vizinhas de fato-de-treino coloridos, aproveitando a mochila cheia de doces que trouxe do outro lado do Atlântico, mas rapidamente a coisa torna-se mais séria. Tirando uma breve aventura com a prima, também pré-adolescente, que o ensina a conduzir um Lada de caixa manual, a sua entrada na vida adulta vai-se dar entre o choque de regressar a uma terra que tem pouco a ver com as histórias que ouvia contar, de ver a mãe recém-divorciada com outro homem (o semi-mafioso Darius Gumauskas) e de ver a sua terra prometida ocupada por estrangeiros esquisitos que se recusam a sair.

Motherland tem assim uma inevitável onda de nostalgia a invadi-lo, mas é sobretudo um filme sobre promessas não cumpridas, choque cultural e dúvidas existenciais. E é feito com uma espécie de naturalismo observacional, como se Matas fosse sempre um corpo estranho na história da mãe (que também sente que o seu destino não se cumpre e está sempre a escapar-lhe entre os dedos), ele que não tem muito a ver com aquela cultura de machismo tóxico de homens que, depois da sauna, vão todos nus para o mato disparar sobre o que mexe. E Tomas Vangris observa-o a observar.

Motherland não deixa, contudo, de ser algo desorganizado, como se tivesse tido alguma dificuldade em distinguir o acessório do essencial. Não atinge níveis de exaltação ou arrebatamento, mas não tem nada de pouco aconselhável ou propriamente de negativo. Mas deixa muito mais a ideia de que este Cheeseburger serviu muito mais para purgar os traumas passados de Tomas Vangris do que para saciar a fome do espectador comum.

*filme exibido na selecção oficial da edição de 2020 do ArteKino

Título: Gimtine
Realizador: Tomas Vangris
Ano: 2019

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