| CRÍTICAS | Eu Amo-te Phillip Morris

Epifania – súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do significado de algo. O termo é usado nos sentidos filosófico e literal para indicar que alguém “encontrou finalmente a última peça do quebra-cabeças e agora consegue ver a imagem completa” do problema.
Existem pessoas que passam a vida inteira a procurar epifanias e não conseguem. Depois, há meia-dúzia de escolhidos que conseguem ter essa sorte e as suas vidas ganham sentido e orientação. E depois há Steven Russell (caso real impressionante, daqueles stranger than fiction, aqui interpretado por Jim Carrey) que teve três(!) epifanias na sua vida.

Eu Amo-te Phillip Morris é o biopic deste homem, Steven Russell, um dos mais famosos burlões e evadidos dos Estados Unidos da América. Russell teve a primeira epifania quando ainda era criança e descobriu que era adoptado: ai, deicidiu ser a pessoa mais boa do mundo. Depois, na adolesência, encontrou a sua mãe biológica e ela voltou a renega-lo. Aí, deixou de acreditar em Deus e passou a dedicar-se mais a si próprio. Até que, certo dia, teve um acidente de viação e, ao ver a luz ao fundo do túnel, voltou a fazer outra resolução: sair do armário e assumir a sua homossexualidade sem rodeios.

No entanto, há algo que descobriu da pior maneira: ser uma bicha espampanante custa muito dinheiro. E, para manter aquele nível de vida, Russell tornou-se num burlão. E de sucesso. Entra para cargos em empresas de topo para os quais não tem habilitações, engana as altas instituições e lesa toda a gente que consegue. Depois, quando é descoberto e apanhado, magica formas mirabolantes de escapar da prisão.

Por tudo isto, Eu Amo-te Phillip Morris é um primo de Apanha-me Se Puderes, com uns pozinhos de filme de prisão, mas em versão gay. Mas, apesar da realidade temporal e espacial ser praticamente a mesma, Eu Amo-te Phillip Morris não se parece nada com os filmes de espiões do cinema clássico ou com os filmes de reclusos; é antes uma comédia flamboyant, com um humor disfuncional e um toque indie.

Tal como O Anti-Pai Natal, filme subvalorizado escrito por esta dupla de realizadores, Ficarra e Requa, Eu Amo-te Phillip Morris é uma inusitada mistura de estilos, que parece uma coisa e é outra. Por exemplo, se olharmos para o cartaz e vermos casal gay photoshopado que parece a Ruth Marlene na Playboy, imaginamos uma comédia alarve com o overacting de Jim Carrey. Nada mais errado, é antes uma comédia subtil e inteligente. E se o tratamento dado parece o da comédia romântica tradicional, a verdade é que Eu Amo-te Phillip Morris é mais um melodrama movido a Xanax do que outra coisa.

Mas, como o título indica, Eu Amo-te Phillip Morris é, na sua essência, uma história de amor: a história de amor entre Steven Russell e Phillip Morris (Ewan McGregor, tão frágil como nunca se viu), um loiro de olhos azuis que conhece na prisão e pelo qual se apaixona perdidamente. E a quem está disposto a correr todos os riscos para lhe dar uma vida na alta roda.

Eu Amo-te Phillip Morris é um filme com um toque especial, um Jim Carrey num registo mais contido do que o habitual e uma história bastante enjoyable. Por isso, Eu Amo-te Phillip Morris é, sobretudo, uma surpresa inesperada e agradável e um McBacon confortável.

Titulo: I Love You Phillip Morris
Realizador: Glenn Ficarra & John Requa
Ano: 2009

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