| CRÍTICAS | Projecto Gemini

Nos anos 90, Will Smith andava nas palminhas de toda a gente e era o actor mais requisitado de Hollywood. Depois da fama com O Príncipe de Bei-Air, Smith começou a transformar em ouro tudo o que tocava: Dia da Independência, Os Bad Boys, MIB – Os Homens de Negro… A isso juntou uma carreira paralela na música e o céu parecia o limite. Até que, em 1999, veio Wild Wild West que funcionou como o vírus do milénio, como a sua kriptonite. Foi um fiasco e a carreira de Will Smith nunca mais se endireitou, por mais que tenha tentado em se afirmar como actor a sério/actor de acção/qualquer coisa.

Projecto Gemini é o filme em que, graças à tecnologia de rejuvenescimento que, no mesmo ano, deu que falar em O Irlandês, Will Smith vai-se confrontar a si próprio. Ou melhor, a um clone de si, se bem que, segundo o entendimento que o filme faz de clones, esse Will Smith é igualzinho a si, com os mesmos medos, traumas, desejos e até alergias(!). O que, do ponto de vista simbólico, tinha muita força. O que o Will Smith de hoje teria a dizer ao Will Smith jovem? Mantém-te longe de aranhas gigantes e não lhes toques nem com um pau de 10 metros? Esquece as sequelas? Não te metas com a DC?

Infelizmente, Projecto Gemini não vai por aí, nem sequer deixa espaço para reflexões do género. O filme limita-se a ser um Blockbuster desmiolado, em que, de 15 em 15 minutos, tem que ter uma explosão maior que a anterior, imagem de marca do produtor Jerry Bruckheimer. Além disso, a tecnologia de rejuvenescimento de Will Smith é uma espécie de masturbação digital e o filme (como todos os de Bruckheimer) gosta, correcção, faz questão de se exibir, esfregando-nos a pila na cara a toda a hora.

Wil Smith interpreta então um assassino a soldo que anuncia a reforma, já que, ao fim de tantos anos na profissão, tantas mortes começa a mexer com ele. O que não desconfiava sequer é que, vinte e tal anos, Clive Owen tinha-lhe sacado sangue para desenvolver um programa secreto de soldados clonados, sem emoções e sem dor, para enviar para o mercado da guerra como carne para canhão.

A coisa até começa com algum savoir saire e uma bela perseguição de mota em Cartagena, mas rapidamente começa a entrar no anonimato tarefeiro, tornando-se exponencialmente menos interessante à medida que as explosões se tornam cada vez maiores. Ang Lee nem sequer tem tempo ou espaço para introduzir os seus habituais dramas existencialistas e melodrama (vide Hulk), já que se encontra super-ocupado a fazer de John Woo. E para que as perseguições, os tiroteios e as lutas sejam cada vez mais espectaculares, lá têm eles que andar a viajar entre vários destinos internacionais. Para isso, surge do nada um aliado inesperado (Victor Wong), um deus ex machina que vai conduzir aviões e, já agora, serve também para o comício relief. O chamado matar dois coelhos com uma cajadada.

Conseguimos aguentar Projecto Gemini até quase ao final porque, no fundo, queremos ver aquilo que toda a gente que decide ver este filme quer ver: Will Smith a lutar contra uma versão jovem de si mesmo. A coisa acontece mais do que uma vez e… meh. Nada de especial. Mais vale comer o Happy Meal o mais rápido possível, arrumar Projecto Gemini nos recantos escuros das memórias cinéfilas e ir ver o original, Face/Off – Dupla Face, duplamente bem mais interessante.

Título: Gemini Man
Realizador: Ang Lee
Ano: 2019

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