| CRÍTICAS | Long Weekend

Um sub-género algo raro dentro do cinema fantástico é aquele que coloca o Homem em confronto com a Natureza. Tornou-se visível graças a essa obra-prima que é Os Pássaros e foi tendo um outro exemplar digno de registo até ter sido morto e enterrado por O Acontecimento, de M. Night Shyamalan. Pelo meio subsiste este Long Weekend, pequena pérola de culto que merecia bem mais do que aquele remake muito fraquinho de 2008, Vingança Natural.

Long Weekend, filme que fez parte da vasta produção australiana que gerou muito lixo e meia-dúzia de pérolas (este é uma delas e foi escrito precisamente pelo autor de outra das obras-primas do género, Everett de Roche, o argumentistas de Patrick) – a oxploitation, é um filme muito simples, com dois actores e um cenário. Marica (Briony Behets) e Peter (John Hargreaves) são um casal e, enquanto ela quer ir passar o fim-de-semana com amigos num hotel faustoso algures, ele prefere ir acampar para o meio do nada. Claro que a vontade do homem prevalece e lá vão eles mergulhar naquela ideia idílica da natureza, que curiosamente só existe na mente das pessoas que vivem na cidade, apenas para descobrirem que, afinal, a natureza só os quer matar,

Todos sabemos que, na Austrália, tudo nos pode matar, incluindo o mais pequeno dos insectos. No entanto, a ameaça aqui é bem mais… sobrenatural. Há todo um bestiário que adopta comportamentos agressivos e estranhos (demónios-da-Tasmânia, formigas, uma águia que desce dos céus para um ataque gratuito…), um manatim morto que todas as manhãs avança no areal, comida que se estraga de uma hora para o outro e árvores saudáveis que apodrecem assim que se olha para elas. No fundo, não existe propriamente uma ameaça física e tudo pode estar na nossa imaginação, uma vez que Long Weekend é muito mais atmosférico do que visual.

Além disso, existe toda a tensão no ar entre marido e mulher, numa relação passivo-agressiva, que vamos descobrindo que, afinal, já traz mais bagagem de trás. Sim, há trauma recalcado (spoiler alert: adultério e aborto, não desnecessariamente desassociados um do outro) e isso vai explodir às tantas, qual panela de pressão a encher lentamente durante todo o filme.

Uma das opções curiosas do realizador Colin Eggleston é que, durante muito tempo, vai preferindo encher-nos de falsas pistas. Há jump scenes que não terminam em susto, música ameaçadora que anuncia uma criatura que nunca chega e outros truques do género que ele se diverte a sabotar. Tudo isso tinha tudo para correr mal, mas a verdade é que Long Weekend vai crescendo junto a nós pela estranheza, a mesma que vai destabilizando o casal de protagonistas num thriller psicológico que não rima nada mal com outros exemplares paranóicos, como Cães de Palha ou A Semente do Diabo. No final, tudo termina sem explicação, porque não há nada para explicar. A natureza pode ser madrasta e a alegoria ambiental da agressão humana sobre o planeta torna-se inevitável. Um dos sabores McRoyal Deluxes que merecem ser descobertos para quem se atira à oxploitation sem saber o que esperar.

Título: Long Weekend
Realizador: Colin Eggleston
Ano: 1978

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