| CRÍTICAS | História de um Gigolo

Elvis Presley fez uns impressionantes 31(!) filmes em apenas 13 anos, todos eles altamente esquecíveis. Quando confrontado com História de um Gigolo, um flop na sua curta carreira de actor, David Bowie respondeu que esse era “o seu filme mau”, como todos os filmes do Elvis concentrados num só. Essa continua a ser até à data a melhor descrição de História de um Gigolo!

Antes de Feliz Natal, Mr. Lawrence já David Bowie tinha feito um war movie. História de um Gigolo começa nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, onde Bowie, um soldado prussiano, se apresenta ao serviço no meio de explosões e tiros para se dispor à glória em nome da sua nação. O tom é de farsa e a chegada de Bowie à guerra quase que podia ser a de Raul Solnado. Só que esta não estava fechada… Depois alguém anuncia o fim da guerra e uma explosão atira Bowie pelos ares.

Depois de ter sido dado como morto, Bowie regressa a casa para encontrar tudo diferente de quando tinha abalado. Nem sequer o seu país existe mais e muitos dos seus conterrâneos não estão satisfeitos de como os políticos perderam a guerra. Daí que, de um lado, acabe por conviver com os nazis, que preparavam a sua ascensão, e do outro com os comunistas, com ambos os partidos a tentarem recruta-lo para o seu lado, por motivos diferentes. Entretanto, em casa, a sua família tenta enganar a pobreza com os trabalhos braçais que conseguem arranjar e Bowie acaba por encontrar uma solução mais fácil: tornar-se gigolô de Kim Novak.

É uma salgalhada de temas e o tom do filme, muito tongue in cheak, que não se percebe se é uma sátira sem graça ou uma comédia involuntária, também não ajuda. O próprio Bowie defendeu-se, dizendo que foi apenas um favor ao realizador David Hemmings e que, claro, não poderia dizer que não à possibilidade de contracenar com Marlene Dietrich. Sim, porque a diva alemã faria uma pausa na sua reforma para o último papel da sua carreira, pago a peso de ouro. O filme é esquecível, é um facto, mas Dietrich ainda canta e tudo, com uma versão de Just a gigolo. E também Bowie dá uso às cordas vocais, com uma canção revolucionária, que acabaria por ser editada em 45 rotações no Japão, sendo hoje em dia um daqueles discos que vale o preço de uma casa.

Filmado inteiramente em Berlim, com um elenco de luxo, é incrível o desastre que é História de um Gigolo. No entanto, existem toda essa série de particularidades que merecem referência, nem que seja pela bizarraria. E um dia ainda há de alguém ter coragem para se sentar e explicar, tim tim por tim tim, que a personagem de Bowie não é mais do que uma metáfora da Alemanha do pós-guerra – pobre, sentido-se humilhada, com aspirações a mais e, por isso, vivendo uma vida de ilusão. Deixo o Cheeseburger como inventivo a alguém que pegue nisto.

Título: Just a Gigolo
Realizador: David Hemmings
Ano: 1978

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