| CRÍTICAS | Free Guy – Herói Improvável

Desde Tron, no já longínquo ano de 1982, que de vez em quando lá o cinema salta de novo para dentro dos jogos de vídeo. A última vez tinha sido com Ready Player One – Jogador 1 e agora volta a acontecer com Free Guy – Herói Improvável, filme que actualiza esse filme de Steven Spielberg, mas em bom. E ainda o cruza justamente com o Tron e até com Truman Show – A Vida em Directo e Eles Vivem. Confusos? Não é necessário, passo a explicar.

Ryan Reynolds é o protagonista improvável de Free Guy (estão a ver o que eu fiz com o título em português?) e é uma personagem não jogável num jogo de computador daqueles tipo Fortnite. Ou seja, é uma daquelas personagens que está lá atrás no cenário, que serve apenas para interagir com os jogadores e, na maior parte das vezes, morrer. Obviamente que Reynolds, que se chama genericamente Guy, não sabe disto e não tem noção da sua condição existencial, nem sequer de que a sua realidade, para a qual acorda todos os dias da mesma forma, é um jogo de computador. E daí a referência a Truman Show – A Vida em Directo.

Até que, certo dia, Ryan Reynolds, cansado da sua vidinha inconsequente, decide fazer algo por isso. Apaixonado pelo avatar de Jodie Comer, Reynolds coloca uns óculos escuros, que são o acessório que distingue as personagens não jogáveis dos jogadores online, e passa a ver a realidade de outra forma, tornando-se automaticamente num herói não controlado por um humano. É o Eles Vivem, mas com uma entidade de inteligência artificial a ganhar autonomia, qual computador com síndrome de Pinóquio.

Free Guy – Herói Improvável é assim uma fusão entre o Ready Player One – Jogador 1 com o humor insolente, niilista e onde vale tudo de Deadpool. É certo que já começa a cansar ver Ryan Reynolds sempre a fazer desta personagem cool, um dos nerds que quer dinamitar Hollywood por dentro, mas que na verdade está sempre a jogar pelas regras dele, mas há que reconhecer que Free Guy – Herói Improvável tem graça. E o melhor que tudo é que tem uma história também, o que permite aos seus personagens descansarem enquanto o argumento desenvolve. Não é como Deadpool, especialmente a sequela, que é só uma sucessão de patetices até a irrisão se tornar em dirrisão.

É que, inesperadamente, Free Guy – Herói Improvável acaba por ser uma história sobre o livre arbítrio e o sentimento de pertença, mas especialmente uma história de amor e amizade. Para isso, contribui ainda o subplot que decorre paralelamente, no mundo real. Sim, além do jogo de computador, Free City, onde vive Ryan Reynolds, há ainda toda a intriga que opõe Jodie Comer e Joe Keery, programadores informáticos, ao divertido (mas a abusar um pouco do overacting) Taika Waititi, o criador de Free City que, alegadamente, roubou o código dos dois jovens para utiliza-lo como seu.

O realizador Shaw Levy, depois de anos a fazer comédias descartáveis para toda a família, tipo À Dúzia é Mais Barato ou À Noite, no Museu, saca aqui aquilo que Steven Spielberg queria, mas não conseguiu fazer em Ready Player One – Jogador 1. É certo que estava a jogar sem a pressão das expectativas, mas e então? Um McRoyal Deluxe é um McRoyal Deluxe.

Título: Free Guy
Realizador: Shawn Levy
Ano: 2021

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