| CRÍTICAS | O Génio do Mal (2006)

A coisa mais assustadora do mundo são os saloios e quem não concordar eu respeito à mesma a vossa opinião, entendo-a, mas estão errados e odeio-vos. Já viram o Fim-de-semana Alucinante? A segunda coisa mais assustadora do mundo são as crianças e são vários os filmes exploram esse medo, com O Génio do Mal a assumir-se como o molde de tudo o que são ameaças menores de idade. São mesmo vários os filmes a aproveitarem esse filão. Por isso, para aproveitar o trigésimo aniversário do clássico de Richard Donner, eis Hollywood a aproveitar para despejar cá para fora mais um remake, estreado pertinentemente no dia 6 de Junho de 2006 – 06/06/06, o número da Besta. Espertos, não são?

Outra das decisões acertadas deste remake de O Génio do Mal é o de terem escolhido Mia Farrow para o papel de ama enviada pelo Diabo para proteger o seu filho. É que, nos idos anos 60, Farrow foi a mulher que deu à luz outro filho de Belzebu, nesse clássico que é A Semente do Diabo e que também é um dos moldes do cinema de terror. Mas já me estou a adiantar. Comecemos pelo início, que é por onde todas as histórias devem começar.

O Génio do Mal é assim a história de Damien (aqui interpretado por Seamus Davey-Fitzpatrick, que, ao contrário do original, não mete uma pinga de medo com a sua cara sem expressão, é só mesmo irritante – e uma cena em que ele ataca a mãe no carro é apenas embaraçosa), uma criança adoptada por Liv Schreiber e Julia Stiles que cresce para se revelar o Anti-Cristo (literalmente!). Nem sequer há aqui dúvidas quanto à natureza do mal de Damien: não há aqui mensagens nas entrelinhas sobre o espírito materno ou sobre a saúde mental, tudo é literal e desde o início que fica bem explícito que Damien é o filho do Diabo, a sua mãe é um chacal (também literalmente(!)) e o armagedão está assim anunciado.

Tendo em conta o fundo cristão da história do Anti-Cristo, O Génio do Mal começa precisamente no Vaticano e demora-se durante muito tempo em Itália, com o realizador John Moore a abusar à grande do imaginário católico apostólico romano. Por vezes, é só isso que interessa (por vezes? sempre!), colando as cenas com cuspo de um argumento esquemático para conseguir ter pretextos suficientes para levar Liev Schrieber a conventos isolados, cemitérios semi-abandonados e a igrejas desactivada.

Com muito estilo, mas raramente com conteúdo, O Génio do Mal desaproveita o casting acertado de Mia Farrow e, apesar de manter (e actualizar com sucesso) as duas cenas mais memoráveis do filme original (a morte por empalamento do padre e o suicídio da ama original de Damien) mais uma decapitação com pinta, raramente consegue meter medo ou criar alguma perturbação. Há ainda David Thewlis, no papel do fotógrafo que descobre o que se está a passar, que revela fotos tiradas com uma câmara digital e fuma cigarros atrás de cigarros com um olhar muito compenetrado, como se isso fosse suficiente para criar uma personagem complexa e completa. Revela-se apenas como mais uma muleta narrativa preguiçosa, para levar Liev Schreiber por vários cenários de elementos católicos que, sobre a luz e a música certa, tentam fazer pelo filme o que o argumento não consegue.

No final, O Génio do Mal encerra com um twist e uma espécie de final em aberto, que serviria para introduzir às suas sequelas, mas tendo em conta o resultado deste remake esperemos que esse plano tenha sido abandonado de vez. É que não temos arcaboiço para mais um Happy Meal. Nesse caso, é mesmo preferível o armagedão do que novos remakes de O Génio do Mal.

Título: The Omen
Realizador: John Moore
Ano: 2006

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