| CRÍTICAS | The Girl Who Got Away

Com uma maior consciência acerca da representatividade no grande ecrã começaram a surgir cada vez mais filmes com mulheres em papeis que estavam, normalmente, limitados aos homens. Por isso, era apenas uma questão de tempo até ao primeiro filme de terror com uma serial killer. É certo que têm existido excepções que confirmam a regra ao longo dos anos – basta ver a recente secção do último MotelX, “Fúria Assassina” -, mas a assassina deste The Girl Who Got Away tem uma natureza distinta, mais perto das criaturas dos slashers.

Aliás, a abertura de The Girl Who Got Away (que é, de longe, o melhor momento do filme) parece ter saído directamente de um Sexta-Feira 13, por exemplo. Pai e filho conduzem numa estrada mal iluminada pela floresta, quando se cruzam com um vulto ensanguentado: o de uma senhora mal-encarada, que carrega um machado. Pai e filho seguem marcha, mas não resistem a parar quando passam por uma segunda figura: a de uma jovem que corre e pede ajuda desalmadamente. A diferença no desenlace desta cena é que a primeira figura, a da mulher mal-encarada, acabará nocauteada e inconsciente.

Esse prólogo serve então para introduzir a história de fundo que será o motor de todo o filme. Há muito tempo atrás, uma antiga enfermeira raptou várias miúdas que educou como suas, antes de as matar a todas, excepto uma. Agora, vinte anos depois, Elizabeth Caulfield (Kaye Tuckerman) escapou da prisão e toda a gente receia que ela vá tentar matar de vez a já não tão jovem Christina (Lexi Johnson), o que faz com que o detective Jamie Nwosu (Chukwudi Iwuji) mantenha um olho atento.

Afinal, The Girl Who Got Away não tem nada de slasher e é antes um thriller psicológico, em formato de gótico noir. O cenário pantanoso do country side norte-americano remete para coisas como True Detective, até porque toda a gente tem esqueletos no armário, que os tornam em possíveis suspeitos de estarem a ajudar Elizabeth Caulfield a deixar um rasto de corpos mortos atrás de si. O realizador Michael Morrissey tenta fazer isso com um cozinhado que vai aumentando lentamente a pressão, se bem que já sabemos que, no final, há de vir dali uma cambalhota de argumento. A única questão será ver até quanto o filme confiará nesse twist decisivo.

Pelo meio, caem no filme um par de cenas bem gore, que parece que pertenciam a outro filme, e há um pianinho manipulador que, de tanto soar, começa-se a tornar insuportável. Também há um buraco de argumento, já perto do final, que não nos deixa descansar suficientemente à noite de tão óbvio que é. Mas fora isso, The Girl Who Got Away não é tão esquecível quanto isso. Michael Morrissey tem algumas ideias interessantes que consegue montar, mesmo com um baixo argumento, o detective Chukwudi Iwuji leva o filme às costas sempre que aparece (até porque muitos dos secundários são actores confrangedores) e The Girl Who Got Away acaba por ser uma obra com algum potencial. Há que ter carinho por aquilo que nos relembra a primeira temporada do True Detective e, por isso, terminamos esta prosa com um Cheeseburger.

Título: The Girl Who Got Away
Realizador: Michael Morrissey
Ano: 2021

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