| CRÍTICAS | Cry Macho – A Redenção

Ainda mal começou Cry Macho – A Redenção e já Dwight Yoakam, o patrão de Clint Eastwood, nos dá uma descrição detalhada da sua personagem (a de Eastwood, não a de Yoakam) antes de o despedir da posição de tratador dos seus cavalos: antiga estrela de rodeos, depois um acidente grave a cavalo, problemas com comprimidos e, finalmente, problemas com a bebida. Ainda mal começou Cry Macho – A Redenção e já Clint Eastwood está despedido e humilhado, se bem que ele raramente leva desaforos para casa.

Aos 91 anos de idade, Clint Eastwood continua a fazer filmes (tanto a realizar quanto a estrelar) com uma regularidade impressionante. A continuar assim ultrapassará o recorde de Manoel de Oliveira como o cineasta mais velho de sempre a trabalhar. E a continuar assim arrisca-se também a que a idade se torne numa espécie de gimmick dos seus filmes, já que eles estão cada vez mais a tornarem-se meta-referenciais. Se bem que é curioso que Eastwood, muitas vezes apelidado de fascista (especialmente após o seu apoio a Donald Trump), seja nestes filmes o total oposto. Em Gran Torino mostrava como o racismo era o primeiro passo para a segregação social e neste Cry Macho – A Redenção diz, à boca cheia, que o machismo é sobrevalorizado. Obviamente que essa não é uma afirmação vazia de significado quando sai da boca do próprio Dirty Harry.

Dwight Yoakam há de voltar então e pagar a Clint Eastwood (cobrando uns favores antigos…) para ele ir ao México raptar (trazer emprestado?) o seu filho (o adolescente Eduardo Minett, que é claramente o pior do filme), que a mãe não o deixa ver. Eastwood há de acabar escondido numa pequena aldeola com o rapaz, com uma família mexicana, e eis outra vez Um Mundo Perfeito: um buddy movie entre um homem e um jovem, que vão acabar por aprender um com o outro o significado da vida até à redenção final (mais uma vez, o título em português a querer revelar em demasia).

Tal como o anterior Correio de Droga, Cry Macho – A Redenção é um pequeno filme com grande economia narrativa. No entanto, não se pense que Clint Eastwood está a trabalhar segundo os códigos do cinema de série b. É antes porque ele tem 91 anos e já não tempo a perder com o acessório e vai logo directo ao assunto. Por isso, utiliza antes os símbolos do western, actualizando-o para os dias de hoje, incluindo a banda-sonora country e trocando os cavalos por automóveis. Sim, haverá perseguições automóveis e o próprio Clint Eastwood continua a conduzir(!). No final, ficamos com a sensação de que já vimos Cry Macho – A Redenção (especialmente porque é um primo não muito afastado do Correio de Droga), ao ser o enésimo filme de Clint Eastwood em que eles nos diz que está velho (o que não o impede de sacar a miúda no final). Não era preciso dizer, nós já notámos. E daí o Cheeseburger.

Título: Cry Macho
Realizador: Clint Eastwood
Ano: 2021

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