| CRÍTICAS | Aqueles Que Me Desejam a Morte

A probabilidade de ser atingido por um raio é de apenas 1 em 570 mil, segundo a matemática. Nada de mais, tendo em conta que a probabilidade do seu filho vir a se tornar num astronauta é de 1 em 13 milhões. E, no entanto, Roy Sullivan está no livro dos recordes do Guiness, como o para-raios humano, depois de ter sido atingido 7(!) vezes por raios durante a sua vida. Por momentos, Aqueles Que Me Desejam a Morte parece ser um biopic desse norte-americano, tal é a quantidade de vezes que Angelina Jolie é atingida por raios em apenas hora e meia de filme. Eu sei que o clima em Portugal não é muito propício a trovoadas, mas nunca me tinha apercebido do quanto isso poderia ser um problema nas nossas vidas. Já em relação a areias movediças, isso é outra história.

Para um filme sobre bombeiros e miúdos a fugir da máfia, ser atingido duas vezes no mesmo filme por um raio parece uma opção um pouco… aleatória. Mesmo assim, foi o que o realizador Taylor Sheridan achou ser a melhor forma para a) queimar os telefones de Angelina Jolie e deixa-la sozinha, no meio do mato, sem forma de comunicar com o seu quartel; e b) colocar Jolie e o tal miúdo fugitivo, Finn Little, num momento de apuros. Ah, e de lesionar Angelina Jolie, porque só com lesões físicas é que se comprova o nível de badass de uma personagem, claro.

Essa é a faceta de survival movie de Aqueles Que Me Desejam a Morte e é apenas uma de várias. A principal é ser um filme de bombeiros. Angelina Jolie é uma destemida bombeira num mundo de homens, com testosterona a mais, que anda a braços com o trauma recente de ter avaliado mal um fogo florestal, que levou a algumas casualidades que, quiçá, poderiam ter sido evitadas. Por isso, a forma que encontra de combater esses demónios internos é de flirtar com o abismo, colocando-se a si própria em perigo mais do que recomendável, o que faz os seus amigos acharem que uma durona e a aclamarem como o macho alfa do grupo, mas também faz o xerife local (e seu ex-namorado), Jon Bernthal, ter pena de si.

Depois há um subplot que há de vir chocar de frente com este. É que várias contingências do destino irão colocar o jovem Finn Little, que guarda as evidências que o seu pai, contabilista, descobriu sobre umas trafulhices de gente poderosa, em fuga de dois mafiosos cruéis. Estes começam por eliminar os envolvidos nesse esquema com um plano minucioso de mortes que mais parecem acidentes, para não deixarem provas, mas assim que Finn Little escapa, eles deitam por terra qualquer precaução e então num frenesim sanguinário, em que matam tudo o que se mexa(!). Excepto o xerife Jon Bernthal, porque… bem, porque era preciso deixar vivos os heróis do filme.

Aqueles Que Me Desejam a Morte é então O Cliente meets Mar de Chamas, mas em versão xunga. São vários filmes construídos por camadas, como um bolo, mas em que os ingredientes nem sequer combinam uns com os outros. Tudo isso colado com cuspo, ou seja, com a economia narrativa da série b, como se muitos tiros e incêndios altos disfarçassem a falta de imaginação (e de sentido) da história. Ou raios a atingirem Angelina Jolie. Um desastre! Se era para fazer Hamburgas de Choco, mais valia Jolie ter continuado na reforma. E já agora, que raio de título é este? O que é que tem a ver com o filme?

Título: Those Who Wish Me Dead
Realizador: Taylor Sheridan
Ano: 2021

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