| CRÍTICAS | Jodorowsky’s Dune

Quando se fala em filmes perdidos ou inacabados, há sempre dois que se destacam. O primeiro é The Day The Clown Cried, que deveria ser o filme sério de Jerry Lewis, realizado pelo próprio e que consta que é tão mau que foi fechado numa caixa e a chave deitada fora. O segundo – e o meu favorito – é a versão do Duna por Alejandro Jodorowsky.

E é o meu favorito porquê? Primeiro porque seria a adaptação de um dos melhores livros de ficção-científica de sempre – Dune, de Frank Hebert, uma alegoria geopolítica e pró-ecologista, em que muitos vêm o Médio Oriente projectado – por um dos mais singulares autores de sempre, o surrealista e alucinado Alejandro Jodoworsky, autor do filme de culto (literalmente!) El Topo. Depois porque a equipa que o iria fazer, entre actores e colaboradores, incluir por exemplo gente como o Moebius, o HR Giger, o Salvador Dali, o Orson Welles, os Pink Floyd e o David Carradine.

A importância deste projecto nunca acabado fica provada com a realização deste documentário, que conta a história de todo o processo de produção do filme até ter sido oficialmente abortado, uma vez que o orçamento era proibitivo. Para isso recorre os testemunhos de todos os intervenientes, uma vez que ainda estavam praticamente todos vivos à altura do documentário, e especialmente a um livro feito pelo próprio Jodorowsky e Moebius, com todo o storyboard do filme, detalhado e anotado.

Realizador por ordem cronológica, é um simples documentário de cabeças falantes, complementado com o relato de outras personagens complementares à história, como críticos de cinema ou outros realizadores, como Nicolas Winding Refn, ou não fosse ele fã assumido do franco-chileno, a quem dedicou Só Deus Perdoa. O filme é interessante para todos aqueles que admiram o Dune livro (e não propriamente o Duna) e/ou os intervenientes em particular, mas também para todos os cinéfilos em geral. Até porque mostra como é que um filme que nunca foi feito influenciou tanto cinema posterior, do Guerra das Estrelas a praticamente todo o Spielberg inicial, o Robert Zemeckis, o Alien – O Oitavo Passageiro e, claro, o Flash Gordon. E por falar em Dino de Laurentis, é impagável o momento em que Jodorowsky relata a experiência de quando foi ver ao cinema o Duna, de David Lynch, e afirma a rir que “é horrível”. Tudo razões que justificam a visualização (e existência) deste Le Big Mac.

Título: Jodorowsky’s Dune
Realizador: Frank Pavich
Ano: 2013

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