| CRÍTICAS | Snake Eyes – A Origem dos GI Joe

Depois de dois filmes que ninguém viu, eis que a Hasbro decide lançar o seu próprio universo cinematográfico com os GI Joe, com mais um filme que ninguém pediu. Snake Eyes – A Origem dos GI Joe é o solo movie de uma das várias personagens desta equipa de soldados altamente especializada, que começou como uma linha de bonecos, e que a pouco e pouco se foi estabelecendo como um franchise de sucesso.

Os GI Joe resultam de uma fórmula bem básica do bem contra o mal, feita de arquétipos, em que os mocinhos são uma força de elite tão eclética quanto pouco ortodoxa (e que opera sob a alçada do Tio Sam, claro), e os vilões são um grupo internacional terrorista que se vestem com uniformes tão ousados quanto exravagantes (na boa tradição das gangues de Os Selvagens da Noite). É certo que, actualmente, essa fórmula está um pouco datada e até parece mal estar a ver os Estados Unidos a vestirem o papel de polícia do mundo pela enésima vez, mas o mais chocante é mesmo ver Snake Eyes – a Origem dos GI Joe a querer levar-se a sério. Como é possível levar a sério um filme sobre ninjas altamente treinados que pertencem a uma força de elite internacional de soldados?

Curioso foi ler uma entrevista do realizador Robert Schwentke em que defendia o filme, dizendo que queria tornar os GI Joe mais adaptado à geração millenial. Só se for no pormenor de toda a gente usar motas eléctricas de alta cilindrada, alinhando o filme com a maior consciencialização ambiental desta geração *emoji do bonequinho a encolher os ombros*

Como o próprio nome Indica, Snake Eyes – A Origem dos GI Joe conta o passado de Snake Eyes (Henry Golding), de como ele se tornou num ninja imbatível e acabou por ser convidado a alistar-se nos Joes. É, portanto, um filme de ninjas (essa instituição da xunguice), em que pega no legado da Canon (outra instituição xunga), cruza-o com toda a tradição dos Shaw Brothers (e dos lutadores a solo a desancarem com os próprios punhos exércitos inteiros de homens) e ainda lhe dá uns pozinhos de wi-fu. Começa nos Estados Unidos, mas rapidamente voa para o Japão porque, claro!, não é lá que as artes marciais e os ninjas surgiram?.

O argumento assenta numa intriga internacional qualquer, com tráfego de armas, em que tudo é tão derivativo quanto genérico, para ir desaguar no tradicional momento de treino de Snake Eyes para entrar no clã Arashikage. Jean-Claude Van Damme passou parte da sua carreira a fazer filmes com este molde: um lutador com potencial, mas em bruto, que vai ser polido por um mestre qualquer de artes marciais. Aqui vai ter que passar por três testes fundamentais: um em que luta com o Hard Master… hihihi, juro que o nome é mesmo verdade (Iko Uwais, do The Raid, que consegue nunca se rir sempre que o chamam de Hard Master (ihihi)), o Blind Master (Peter Mensah, a fazer de cego, óbvio) e… anacondas gigantes(!) que pressentem a bondade no coração dos homens(!!).

A intriga é suficientemente funcional para o novelo se ir desenleando de cliché em cliché, até a um último acto final com (finalmente!) cenas de pancadaria que valem minimamente a pena. Aliás, é apenas para isso que vale a pena ver Snake Eyes – A Origem dos GI Joe e para o qual esperamos todo o filme. Robert Schwentke ainda atira para o meio uma Joe (Samara Weaving), porque tem que fazer a ponte com os outros filmes (afinal de contas, o subtítulo do filme é A Origem dos GI Joe), que é metida com a mesma sensibilidade de um pé-de-cabra. No meio de tudo isto, a melhor coisa deste Happy Meal é que no segundo imediatamente a seguir de terminar o filme, já não nos lembramos de literalmente nada do que acabámos de ver. Agora a sério: quem é que pediu para se fazer este filme? Alguém anda a ver isto?

Título: Snake Eyes
Realizador: Robert Schwentke
Ano: 2021

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