| CRÍTICAS | Os Estranhos

Desde que Os Bárbaros do Século XX entraram na casa de Olivia de Havilland, em 1964, e inauguraram o invasors movie, que este subgénero se tornou num dos mais assustadores do terror. Isso porque, ao contrário do slasher tradicional (que é um primo mais ou menos afastado), o invasors movie consolida um medo que é muito mais realista. E se a isto se juntar uma mensagem inicial a quantificar quantas invasões domiciliárias há por ano nos Estados Unidos e outra a avisar que o filme foi baseado em um caso real, torna Os Estranhos duplamente mais assustador.

(plot twist: segundo o realizador, o evento real em que o filme foi baseado foi num episódio pessoal, em que uma noite as casas da sua vizinhança foram assaltadas… mas ei, vende muito mais pensar em uma invasão deste género, com malta mascarada e cruel, não é?)

Scott Speedman e Liv Tyler são um jovem casal que chegam a uma casa isolada para passar a noite, depois do casamento de um amigo. Os dois estão desavindos e a atmosfera entre ambos é pesada. Speedman acabara de pedir a sua mão em casamento e Tyler recusou. Tudo isto faz com que esta noite não esteja propriamente a correr como ambos planearam. E vai piorar ainda mais.

A abertura de Os Estranhos é então um longo build up e consegue manter-nos interessados qb. Afinal de contas, estamos a falar de um filme com apenas duas personagens no mesmo sítio. Até que, de repente, alguém bate à porta. É uma jovem a perguntar por uma Tamara. São 4 da manhã e ela desaparece com a mesma velocidade de que aparecera. De repente, estão lançados os dados. E, se havia argumento, ele terminou exactamente ali. Aquela abertura não serve para mais nada ao longo do filme e deixa a sensação que foi apenas para encher os primeiros 15 minutos de filme. Os mais otimistas dirão que serviu para conhecermos as personagens. É a velha questão do copo meio cheio e meio vazio.

A verdade é que, a partir daí, Os Estranhos desenrola-se como o típico home invasion movie. Há três estranhos mascarados, duas mulheres com máscaras de crianças e um homem com um saco de serrapilheira na cabeça, cujos motivos são tão aleatórios quanto esses adereços. O realizador Bryan Bertino privilegia a sugestão a qualquer gore mais gráfico, se bem que o filme acabará e os atacantes continuarão sem aparecer. Aliás, reza a lenda que a produção do filme ainda anda à procura deles. Existem também um par de decisões dos personagens que nos deixam enervados, meia dúzia de clichés que não poderiam deixar de passar e todo um niilismo que não tem qualquer escape (pensamos em Brincadeiras Perigosas quando pensamos em home invasors niilistas, mas a diferença entre um e outro é abismal), tornando-se apenas inconsequente e oco. Os Estranhos é um Happy Meal que desperdiça por completo uma boa abertura.

Título: The Strangers
Realizador: Bryan Bertino
Ano: 2008

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