| CRÍTICAS | Finch

Uma das verdades cinematográficas mais conhecidas do público é aquela que diz assim: nunca deve viajar com o Tom Hanks, seja de foguetão (olá Apollo 13), de barco (como estás Capitão Phillips?) ou avião (e aí, Milagre no Rio Hudson?). E, mesmo assim, eis Finch, um road movie com Tom Hanks. Além disso, para quem está familiarizado com a filmografia de Hanks, há também aqui um outro elemento familiar. É que ele é o único actor do filme. A diferença é que, desta vez, o seu parceiro não é uma bola de vólei inanimada. Tom Hanks está a viajar com um cão e com dois robots, sendo um deles Jeff (voz de Caleb Landry Jones), uma avançada unidade de inteligência artificial humanóide mais humana que muitos seres humanos.

Estamos então num futuro pós-apocalíptico, em que a Terra se tornou num local ermo e deserto. Uma erupção solar destruiu a camada de ozono e, agora, o sol é apenas uma fonte de calor abrasiva que queima tudo e não deixa nenhuma forma de vida desenvolver-se. Tom Hanks, uma espécie de cientista solitário, sobrevive com a companhia do seu cão e uma rotina mais ou menos activa, se bem que está a morrer aos poucos, devido à exposição prolongada à radiação solar.

Tom Hanks vai precisar de abandonar a base onde vive, devido a uma tempestade destrutiva que se aproxima, o que não lhe permite terminar de construir Jeff como queria. A sua memória só carrega 70 por cento da biblioteca que queria e, por isso, vai ser um work in progress, enquanto conduz até São Francisco. Felizmente, Jeff é uma unidade de inteligência artificial e vai aprendendo por experiência e erro, o que lhe permite ir desenvolvendo-se até se tornar naquilo que Tom Hanks deseja: autónomo o suficiente para tomar conta do cão depois da sua morte. Por isso, além das leis da robótica de Isaac Asimov, Hanks dá-lhe uma nova directiva: deve sempre proteger o bem-estar do cão, não importa como.

Eis então um road movie familiar até São Francisco, ao som do American Pie ou dos standards de Perry Como, com um par de ameaças não muito perigosas, um arco narrativo na construção de Jeff que deixa muito a desejar e demasiados planos de drones, esse flagelo do cinema moderno. Finch é simpático, mas falta-lhe gravitas. O futuro é negro, mas graças ao ambiente familiar entre Hanks, o cão e, mais tarde, o tal robot humanóide, Finch é um pós-apocalipse fofinho. E, por isso, simpatizamos qb com o Double Cheeseburger, mas já tivemos viagens bem mais emocionantes na companhia de Tom Hanks.

Título: Finch
Realizador: Miguel Sapochnik
Ano: 2021

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