| CRÍTICAS | Matrix Resurrections

Quando estreou, Matrix foi um uau que mudou o cinema para sempre. Hoje, mais de 20 anos depois, temos já a distância temporal suficiente para conseguirmos olhar para trás e perceber que sim, o filme das manas Wachowski foi mesmo uma pedrada no charco. Basta ver como ainda este ano, 2021, ano em que curiosamente há uma nova sequela ao franchise, houve um filme a parodiar o bullet time. Sim, em Space Jam – Uma Nova Era, esse filme que a própria Warner Bros criava o seu próprio universo cinematográfico, o Matrix voltava a estar na berra pela enésima vez.

O legado de Matrix é tão forte que nem sequer as duas sequelas seguintes, verdadeiros desastres de viação que nem sequer deixaram ninguém vivo, conseguiu apagar. Hoje, mais de 20 anos depois, ainda olhamos para trás e recordarmos Matrix com carinho e nos lembramos do sentimento que foi ver um filme que nos mostrava coisas que nunca tínhamos visto antes em imagem real. É certo que a tecnologia evoluiu bastante e algumas coisas envelheceram mal, mas por norma Matrix continua a não estar nada datado.

Por isso, uma quarta sequela de Matrix, mesmo 20 anos depois daquele choque de frente que foi Matrix Revolutions, acabava sempre por despertar alguma curiosidade. Primeiro, porque era preciso que Lana Wachowski se redimisse do que tinham feito da trilogia; e segundo porque havia grande curiosidade em ver como é que o filme iria responder a esses avanços incríveis da tecnologia em apenas duas décadas. É que de 1999 até agora a era digital tomou conta disto, a internet das coisas veio alterar a nossa relação com a world wide web e já não existem modems por impulsos telefónicos para que o pessoal possa escapar da rede.

Depois de uma abertura que introduz personagens novos (destaque para Bugs (Jessica Henwick)) e faz uma releitura do filme original, somos introduzidos à personagem de Neo (Keanu Reeves que, de cabelo comprido, está ainda mais crístico), que vive na Matrix e não se lembra de nada dos eventos passados. Ele é um famoso programador de jogos de vídeo, que criou uma trilogia mundialmente famosa que revolucionou o mundo dos jogos, chamada… Matrix. Diz-vos alguma coisa? É Lana Wachowski a divertir-se com as meta-referências, incluindo quando Keanu Reeves recebe uma encomenda da Warner Bros(!) para criar uma nova sequela do jogo, Matrix 4(!!).

Esse jogo lúdico de espelhos (que é também a enésima referência à Alice e a Lewis Carroll, que é aqui ainda mais óbvio, com uma personagem chamada Bugs(!) e uma montage ao som do White Rabbit, dos Jefferson Airplane) é o melhor de Matrix Resurrections. Lana Wachowski rejuvenesce Morpheus, que agora já não é Lawrence Fishburne, mas é Yahya Abdul-Mateen II igualmente impecavelmente vestido, troca o Agente Smith de Hugo Weaving por Jonathan Gross e, por entre personagens repescadas à trilogia original e muitos flashbacks especialmente ao primeiro filme, introduz uma personagem-chave nova – o Analista, interpretado por Neil Patrick Harris, que é um erro de casting, porque mais que queiramos nunca o conseguimos despegar de Foi Assim Que Aconteceu e estamos sempre à espera que ele apareça a engatar a mãe de Neo ou algo do género.

A partir do momento em que Matrix Resurrections volta a retirar Neo da Matrix, volta tudo à cantiga do costume, com a dicotomia destino vs livre arbítrio e algumas referências filosóficas, só que tudo muito cansado e preguiçoso. No entanto, a maior desilusão desta sequela é que não há nunca qualquer sentimento de novidade como havia nos primeiros filmes. Goste-se ou não de Matrix, a verdade é que ele revolucionou a sétima arte (o bullet time, o wi-fu…) e a própria cultura pop, com as longas gabardines de cabedal e os óculos escuros futuristas. Em Matrix Resurrections as coreografias e as sequências de acção são frouxas e até o CGI parece de baixo orçamento. Nem sequer a música faz a diferença. Basta pensar que o filme termina com uma cantiga daquela banda da senhora que urinou num senhor do público. Se é essa a ideia de transgressão de Matrix Resurrections então estamos falados. O Happy Meal é uma desilusão, mas infelizmente combina com os dois filmes anteriores da trilogia.

Título: The Matrix Resurrections
Realizador: Lana Wachowski
Ano: 2021

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