| CRÍTICAS | Baba Yaga

Os mais atentos irão dizer que é uma personagem do John Wick, mas Baba Yaga é uma das personagens mais populares do folclore eslavo (atenção, não confundir com Baba Vanga, a vidente búlgara que chegou a aconselhar líderes de Estado, incluindo Tito). É uma bruxa que vive na floresta, numa casa assente em pés de galinha(!), e que voa num almofariz(!!), com associações à morte, à maternidade ou à natureza. De quando em vez, Hollywood aproveita a figura de Baba Yaga para fazer um outro filme, sempre com maus resultados. Felizmente sempre tivemos a série b italiana para nos redimir.

Baba Yaga é um giallo com laivos artsy, que costuma ser descrito como o filme de terror que Godard nunca fez. Valentina Rosselli (Isabelle De Funès) é a protagonista do filme, uma espécie de mulher renascentista, artista multifacetada mas que tem na fotografia a sua área de preferência, que é o nome mais importante da cena artística europeia. Já ouviste falar de Henri Cartier-Bresson?, pergunta alguém numa festa. Esse é mais um dos vários pseudónimos da Valentina. Em poucos minutos fica montado o ambiente e o mundo em que se move Valentina, que ainda tem mais uns minutos de name dropping, que inclui o próprio Godard também. Valentina é quem todos os homens querem ter e que todas as mulheres querem ser.

Nessa noite, após a festa, Valentina acaba por conhecer a caminho de casa uma misteriosa mulher que quase a atropela. Ela é, nem mais nem menos, Baba Yaga (incrível Carroll Baker, a projectar a sombra de femme fatale sobre a do demónio), que vai exercer um fascínio quase obsessivo sobre Valentina, entre a sedução e o feitiço. Por entre estados de transe mais ou menos conscientes, sonhos aleatórios com nazis(!), muita pele à mostra e uma boneca vestida em trajes sado-maso e que se transforma numa dominatrix quando ninguém está a ver (e que se chama Annette, será que Leos Carax e os Sparks andaram a ver filmes de terror manhosos?), Valentina acaba por ficar a flirtar com a morte, quando uma das suas câmaras fotográficas ganha a capacidade de matar aqueles que fotografa.

Existem muitas ideias presentes em Baba Yaga, se bem que nenhuma delas é propriamente explorada a fundo. São mais pretextos do que outra coisa, num filme mais atmosférico do que narrativo, e em que Valentina e Carroll Baker são personagens suficientemente complexas para conseguirem manter o filme à tona. No final, há um plot twist que serve para encerrar e dar sentido ao arco narrativo, fazendo de Baba Yaga um filme sobre o estado da arte em Itália nos anos 70 também. Não é um giallo representativo, mas o seu Cheeseburger certifica uma das mais alternativas variações do género.

Título: Baba Yaga
Realizador: Corrado Farina
Ano: 1973

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