| CRÍTICAS | Cuidado com a Mamã e o Papá

Existem vários tipos de vírus e de pandemias. Actualmente, o mais famoso é o novo coronavírus, claro, mas o cinema sempre preferiu viroses um pouco mais mortíferas. Não têm necessariamente que ser realistas ou sequer bem explicadas. Importa é terem uma alta taxa de mortalidade ou efeitos devastadores, de preferência capazes de levar o mundo para um cenário pós-apocalíptico na hora e meia seguinte caso algum herói mais destemido não encontre uma cura ou uma solução para esse mal do mundo.

No entanto, por muito que estejamos habituados a pandemias cinematográficas, dificilmente vimos algo como Cuidado com a Mamã e o Papá. É que o vírus que atinge o mundo e que se começa a propagar como mel na sopa faz com que os pais sintam o desejo incontrolável de matar os seus filhos. É, claro, uma ideia da mente distorcida de Brian Taylor, um dos criadores do insano Crank – Veneno no Sangue ou da série Happy! (em que um polícia viciado tem visões com um bicharoco azul fofinho), mas que funciona sobretudo por criar um cenário hipotética de que ninguém está à espera. Ao recusar os instintos paternais de todos os pais do mundo, Cuidado com a Mamã e o Papá está a privar-nos do maior porto seguro de todos, o da protecção do regaço do pai e da mãe.

Mas não se pense que Cuidado com a Mamã e o Papá tem muito para reflectir sobre isto. Porque, no fundo, tudo o que Brian Taylor queria era um pretexto para colocar Nicolas Cage e Selma Blair a tentar matar os dois filhos (Anne Winters e Zachary Arthur). E, claro que para sobreviver, estes vão ter que colocar de lado as rivalidades entre mano e mana. Cuidado com a Mamã e o Papá é assim um survivor movie, em formato comedy horror, se bem que o humor é bem negro. E cruel. E perverso.

O veículo é o ideal para Nicolas Cage ir full berserk em meia dúzia de cenas, dando ainda mais sentido a Cuidado com a Mamã e o Papá para existir. É pena que Brian Taylor tenha desistido de tentar fazer algo mais tão cedo (de início, quando prepara o terreno para o acto final – e com todo o aspecto visual que vai beber directamente aos mavericks da Nova Hollywood dos anos 70 – ainda temos fé durante algo tempo de que Cuidado com a Mamã e o Papá procure ser algo mais do que um no brainer gore show, tipo um filme para reflectir sobre os problemas da paternidade e do matrimónio, mais ou menos como Santa Clarita Diet o fazia a partir do filme de zombies), uma vez que havia potencial para mais, mas ei, quem é que não gosta de um bom filme desmiolado de vez em quando? É certo que assim nunca vais crescer, mas quem é que quer crescer neste mundo de qualquer das formas? Enquanto tivermos Cheeseburgers, Coca-colas e gelado de chocolate não precisamos de muito mais.

Título: Mom and Dad
Realizador: Brian Taylor
Ano: 2017

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *