| CRÍTICAS | A Origem do Mundo

Em 2006, Jacques Audiard realizou um filme com um dos mais bonitos títulos de sempre: De Tanto Bater o Meu Coração Parou. O coração do igualmente francês Laurent Lafitte, um dos membros da Comédia Française, também para em A Origem do Mundo e ninguém sabe porquê. Será que foi de bater muito? Isso nunca interessa, na realidade. A grande diferença é que, neste caso, é mesmo literal.

Sim, é um paradoxo: o coração de Lafitte não bate mais, mas ele continua vivo. Por um lado, tem vantagens: não se cansa, sobe as escadas do seu prédio sem esforço e vai ao ginásio com a mesma facilidade de que troca de camisa. No entanto, a parte má é que, se em três dias não tirar uma fotografia à vagina da sua mãe(!) – e tem que ser com uma máquina analógica, com uma digital não dá -, acabará mesmo por morrer. A forma como ele descobre isso tem tanta credibilidade como a própria ideia do coração parar de bater e ele não morrer, por isso nem sequer vale a pena falar nisso.

A premissa de A Origem do Mundo é do mais absurdo que pode existir, mas Laurent Lafitte (que, além de protagonizar, realizou também o filme) leva-a tão a sério que é impossível não acreditar nela. Por isso, seguimos com interesse A Origem do Mundo, enquanto Laffite e a esposa (Karin Viard) convocam o melhor amigo (Vincent Macaigne) para arranjar uma forma de fotografar a xirita da mãe.

O que resulta é uma comédia desconfortável, que nunca descamba para o escatológico ou para a graçola fácil, mas que resvala várias vezes para o mau gosto. Afinal de contas, é uma premissa que o faz caminhar na corda bamba constantemente. E, apesar do arriscado da proposta, A Origem do Mundo nunca se estatela cá em baixo. E o truque para o sucesso é mesmo a forma como nunca desce de (um certo) nível, mesmo que a tentação para chafurdar na lama fosse grande (afinal de contas, estamos a falar de seduzir uma senhora de 90 anos para lhe tirar as cuecas, não é?). Ou seja, A Origem do Mundo não é uma comédia hilariante que vá ficar nos anais do género, mas é sólida qb para recomendarmos o McBacon. E a premissa é forte o suficiente para a mencionarmos de quando em vez em conversas sobre filmes parvos.

Título: L’Origine du Monde
Realizador: Laurent Lafitte
Ano: 2020

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