| CRÍTICAS | Gaia

Os ophiocordyceps são fungos que se desenvolvem nos insectos, mas entre eles há um muito particular. O ophiocordyceps unilateralis aloja-se nas formigas como um parasita, tomando controle do seu cérebro e, consequentemente, do seu corpo, levando-as à morte para que se desenvolva de forma mais saudável. É por isso conhecido como o fungo das formigas zombies.

Como fazer um filme sobre formigas mortas-vivas seria um pouco parvo, Gaia procura adaptar esse conceito aos humanos. É numa parte recôndita da floresta sul-africana que um fungo misterioso se desenvolve no subsolo, matando os homens que ganha e transformando-os em homens-cogumelos(!), que parecem sempre um figurino de uma produção de teatro com algum orçamento.

Apesar dos avisos do seu colega de que se está a comportar como os brancos dos filmes de terror que dizem “aquilo parece perigoso, vou lá ver“, a guarda florestal Gabi (Monique Rockman) decide embrenhar-se numa zona bem remota da floresta para ir tentar recuperar um drone. Mesmo que tenha visto nas câmaras que este foi abatido por uma estranha figura humana. Mas pronto, sem isso não teríamos filme, não é?

Lesionada num pé, Gabi acaba por ser auxiliada por dois eremitas que vivem ali, longe da civilização. O pai (Carey Neo) é um antigo cientista, que foi para ali com a mulher aproveitar os últimos dias dela depois da ciência já não conseguir dar resposta ao seu cancro terminal, e que acabou por encontrar deus e alguma espiritualidade alternativa naquela presença estranha que se desenvolve no subsolo; e o filho (Alex Van Dyk) é apenas um adolescente que parece estar a perder os melhores anos da sua vida. A diferença entre ele e a Nell é que este sabe falar inglês.

A partir daí, o realizador Jack Bower desenvolve uma história acerca do conflito entre civilização e natureza, se bem que o realizador faz questão de reforçar bem a su metáfora e de nos mostrar de que lado da contenda está, com a cena final em que é uma crítica bem forte ao capitalismo e de como o antropoceno vai levar-nos à ruína, ou não estivéssemos já em plena crise ambiental. A novidade são as ferramentas que utiliza para reflectir sobre isto: o body horror, os signos do cinema de terror (e o sub-género dos filmes de criatura) e, claro, como este é ujm filme sobre cogumelos, muita alucinação a tender para o espiritualismo new age. Gaia pode ser apenas um Double Cheeseburger, mas é um dos filmes fantásticos mais originais dos últimos anos, o que é qualquer coisa, não é?

Título: Gaia
Realizador: Jaco Bouwer
Ano: 2021

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