| CRÍTICAS | X

Se houve coisa que À Prova de Morte e Planeta Terror permitiu (o projecto Grindhouse, portanto) foi retirar o exploitation da obscuridade. Obviamente, isso teve coisas boas e coisas más. As vantagens são óbvias: o exploitation ganhou legitimidade e deixou de ser um sub-género de nicho (ou, pelo menos, limitado a uma ideia de filmes de gosto duvidoso). Por outro lado, as desvantagens: de repente, o exploitation tornou-se também num filão a explorar, tendo sido espremido até ao tutano, normalmente (sempre?) com maus resultados.

Agora que essa tendência parece ter acalmado, eis o round dois, que não só chega de forma inesperada, como chega de onde pouco esperaríamos: da A24, a mais excitante e estimulante produtora da actualidade. Isso significa que, apesar de vir assinado por Ti West, realizador cujo título mais excitante da carreira deve ser o V/H/S (que também foi um título que procurou aproveitar uma tendência do momento, o found footage film), há uma espécie de selo de qualidade que lhe dá alguma credibilidade. Ou não. O que é que isso mesmo interessa num filme exploitation, não é?

As filmes exploitation procuram assim explorar de forma mórbida e sensacionalista temas como o sexo e a violência, ao mesmo tempo que, nas entrelinhas, funcionam como metáforas a temas fracturastes da actualidade. X é tudo isso! Um filme que não só explora o sexo e a violência de forma profunda (escarafunchando de tal forma até chegar ao gore) como eles próprios são os temas que se escondem nas entrelinhas. Sexo para falar de sexo e violência como algo consanguíneo e transmissível.

X conta então a história de uma reduzida equipa de cinema que vão filmar um porno independentemente no rancho alugado a dois velhotes caquéticos. A equipa é bem eclética: há o produtor executivo, que é um tipo perdido de amor por ele próprio (Martin Henderson); há o realizador, que é um gaiato que, apesar de estar a fazer um filme pornográfico, acredita que não tem necessariamente de prescindir da qualidade artística (Owen Campbell); existe o actor (Kid Cudi), que é um veterano do Vietname; existe a actriz experiente (Brittany Snow), que sabe bem as diferenças entre sexo e amor; e, finalmente, existe a jovem estrela em ascensão (Mia Goth), convencida de que o destino lhe reserva coisas boas no mundo do espectáculo.

Durante um certo período o grupo vai acumulando tensões entre si (todas elas desnecessárias, claro), que depois vão explodir ao mesmo tempo que os jovens começam a ser mortos um a um. Contudo, ao contrário dos slashers tradicionais, há aqui uma inversão dos arquétipos: é que, enquanto que nesses são os jovens que procriam os primeiros a morrer, aqui é o contrário. No entanto, a metáfora sobre o sexo (e sobre a velhice) é encarnada pelos próprios assassinos, que são obviamente os caseiros da casa. Esqueçam a idade avançada, especialmente a senhora (que é interpretada também por Mia Goth, com próteses e muito silicone), que isso não é entrave. A senhora continua a ter um apetite sexual insaciável e isso concentra-se numa vontade de matar que é também uma metáfora do amor na terceira idade. Sim, X é a versão explotation do Amor.

Há então muitas mortes gráficas (e há uns olhos arrancados da cabeça que são particularmente interessantes), algumas cenas de horror geriátrico que são perturbadoras q.b. e até um twist que, apesar de ser totalmente desnecessário, não interfere nem um pouco no resultado do filme (o que é dizer muito de twists do género). X pode não ser o típico filme da A24, mas o seu Double Cheeseburger não ofende ninguém.

Título: X
Realizador: Ti West
Ano: 2022

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