| CRÍTICAS | Bz – Viagem Alucinante

Quem diria que Adrian Lyne, o realizador dos thriller-eróticos Nove Semanas E Meia e Atracção Fatal (mais lembrados pela sua parte erótica do que pela sua parte thriller) seria o responsável por um dos filmes que mais influenciou o que de melhor se fez no terror da última década (alguém mencionou Ring – A Maldição ou O Sexto Sentido?)? Além disso, esse filme sofreu também uma das mais hilariantes e já famosas traduções para língua portuguesa: o original Jacob’s Ladder transformou-se em Bz – Viagem Alucinante.

Jacob Singer (Tim Robbins) é um veterano da guerra do Vietname que sofre alucinações traumáticas. No entanto, esses delírios começam a fundir-se com a realidade, quando demónios sem cara tentam atropela-lo, ou quando a sua namroada Jezebel (Elizabeth Peña) envolve-se numa dança promíscua com uma criatura com cauda, durante uma festa. Por isso, se calhar é melhor mudar a parte que diz traumas pós-guerra para experiências givernamentais com militares. Ou então não. O que é certo é que os pesadelos de Jacob são terríveis; e a parte pior é serem reais.

Bz – Viagem Alucinante redefine o cocneito de traumas pós-guerra no diccionário cinematográfico. Adrian Lyne cria uma atmosfera claustrofóbica e arrepiante, num crescendo de mistério, cruzando situações surreais com o quotidiano do personagem principal. Bz – Viagem Alucinante é uma espécie de O Sexto Sentido realizado pelo David Lynch. E acreditem, esta é a melhor definição alguma vez feita ao filme.

Traumas de guerra, delírios mentais e conspirações governamentais. Parece complicado e cheira um pouco a banhada. Mas não é, acreditem. É antes um thriller psicológico intenso, daqueles que criam um nó no estomago e no cerebro. Menos subtil que O Sexto Sentido, é certo, mas a piscar o olho ao twist final.

Tim Robbins é um dos actores mais subvalorizados de sempre e tem aqui uma interpretação estupenda, numa transfomração angustiante à medida que os delírios aumentam. E a sequência num hospício perdido, com tanto de loucura e macabro como de freakshow e mutilação, é verdadeiramente soberba. Bz – Viagem Alucinante está ainda repleta de actores secundários em ascenção: Elizabeth Peña, ideal no papel ambígua de anjo e demónio; Eriq La Salle, antes da afirmação em Serviço De Urgência; Jason Alexander, o Constanza de Seinfeld; e até um jovem e uncredited Macaulay Culkin.

Se tens medo de morrer e estás a aguentar verás demónios aterrorizando a tua vida. Mas se encontraste paz interna, então esses demónios são apenas anjos libertando-te da Terra. É este o mote deste delírio à la David Lynch que Adrian Lyne realizou, dando o pontapé de saída para muito do que se faz hoje no terror psicológico. Por isso não se admire se lhe parecer já ter visto algumas coisas: o McRoyal Deluxe é um selo de autenticidade.

Título: Jacob’s Ladder
Realizador:
Adrian Lyne
Ano: 1990

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