| CRÍTICAS | Elvis

Em 1963, em Ruivas, Loiras E Morenas – um dos vários filmes esquecíveis de Elvis Presley -, há uma cena em que o Rei paga a um miúdo para lhe dar uma canelada, para impressionar uma rapariga. Podia ser só mais uma cena pateta, se o destino não tivesse interferido à bruta. É que o miúdo era, nada mais nada menos, do que Kurt Russell, que não só iria tornar-se num actor de créditos firmados, como em 1979 iria interpretar o próprio Elvis Presley no biopic Elvis.

Mas há mais trivialidades que fazem de Elvis um filme a reter. Primeiro, porque é o primeiro filme sobre a vida de Elvis, realizado para a televisão apenas dois anos após a sua morte. E depois porque é assinado por John Carpenter, realizador de culto que nunca fez um filme mau (às vezes pode é fazer uns menos bons…), que tinha aqui a sua primeira colaboração com Russell, actor que viria a ser o protagonista de alguns dos seus melhores filmes (alguém mencionou As Aventuras De Jack Burton Nas Garras Do Mandarim ou Nova Iorque 1997?).

Posto isto, Elvis não é mais do que parece ser: um biopic em formato telefilme, que mistura factos e mitos da vida e obra de Elvis Presley, desde a sua infância até ao seu concerto de regresso no International Hotel, em Las Vegas, que marcou o princípio do fim da sua carreira. Ao longo das três horas fica de fora o papel duvidoso do Coronel Tom Parker da gestão da sua carreira ou o problema com os comprimidos, por exemplo, mas aborda a sua relação obsessiva com a mãe ou os problemas finais com Priscilla Presley.

Elvis é assim um biopic para totós da vida do Rei, uma espécie de documento introdutório para quem quer saber mais da vida de Elvis Presley. Para os fãs mais acérrimos, interessa também as prestações musicais. Ciente de que um filme sobre o Rei não poderia não prestar atenção à música, John Carpenter não tem problema em perder tempo em recriar actuações inteiras de várias canções, nos momentos em que Kurt Russell mais brilha na pele do Rei, com os mesmos movimentos pélvicos, trejeitos e maneirismos.

Quanto à realização, Elvis é uma espécie de trabalho anónimo de John Carpenter, sem traços de autor característicos, mas igualmente sem comprometer. Afinal de contas, estamos a falar de um autor que não gosta de inventar e que vai, invariavelmente, directo ao assunto. E Elvis ganha com esse corte de gorduras desnecessárias, continuando a ser um dos melhores filmes sobre o Rei de sempre. Elvis merece ser recordado pelo McChicken que é e pelo seu lugar na história da cultura popular.

Título: Elvis
Realizador: John Carpenter
Ano: 9179

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