| CRÍTICAS | O Embate

O buddy movie foi um sub-género do filme de polícias que foi muito acarinhado nos anos 80. No entanto, isso não significa que não tenham havido também algumas bizarrias neste domínio. É o caso de O Embate, um dos filmes mais estranhos que jamais alguém imaginou: um buddy movie com Jay Leno e Pat Morita(!).

Anos antes de Hora de Ponta, já O Embate ensaiava o choque de culturas entre ocidente e oriente. Para isso, cria uma trama mirabolante em Detroit, a Motor City norte-americana, em que um japonês tenta vender a um fabricante automóvel local os planos roubados de um qualquer protótipo de um turbo inovador. A polícia japonesa envia o detective Pat Morita (que continuava desesperadamente a tentar fugir aos papéis estereotipados pós-Mr. Miyagi e que acaba por aterrar de cabeça num papel ainda mais estereotipado, em que até fala como o Chinezinho Limpopó), porque era o único que sabia falar inglês, e depois de alguma desconfiança inicial este acaba por cair num bromance tórrido com Jay Leno, um detective com métodos pouco ortodoxos e língua afiada.

A primeira coisa que surpreende em O Embate é que todos os actores conseguem passar o filme todo sem se rirem. A segunda surpresa é que as piadas de Jay Leno não são tão racistas quanto esperaríamos (ou, pelo menos, não mais do que um habitual episódio do seu Tonight Show). Mas claro que, além de racista, Leno tem que ser também um machista do pior, tentando engatar as miúdas todas com quem se cruza e que, por qualquer razão obscura, nunca conseguem resistir à sua queixada proeminente.

Mesmo assim, a maior surpresa de todas ainda é a que está por vir. É que O Embate não é tão mau quanto antecipávamos. Quer dizer, continua a ser um série b digno de ir directamente para a prateleira do clube de vídeo sem parar na casa partida e receber 10 euros, mas não inventa em demasia e ainda ensaia uma tímida metáfora sobre a indústria automóvel norte-americana e o embate de frente com a globalização capitalista e o mercado que chegava do Japão, mais barato e competitivo, e ao qual Detroit nunca soube realmente adaptar-se. Anos depois, já com Detroit falida, chegar-nos-ia Só os Amantes Sobrevivem, com o rescaldo desse embate económico.

Entretanto, O Embate tem um par de perseguições que não envergonham, duas explosões maiores do que seriam de esperar neste filme, tiroteios demasiado gore para um cop movie com Jay Leno e Pat Morita (e, num deles, o mau rebente em mil pedacinhos com uma granada(!) e um final que imortaliza por completo o filme: Pat Morita salta contra um carro em andamento, atravessando o pára-brisas com os pés e decapitando o pilantra que vai ao volante. Jay Leno costuma dizer à boca cheia que se envergonha de ter feito este file. Mas a verdade é que já vimos Cheeseburgers bem mais constrangedores que este.

Título: Collision Course
Realizador: Lewis Teague
Ano: 1989

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *