| CRÍTICAS | Glorious

Já todos vimos filmes com o protagonista presos o tempo todo no sítio mais improvável de sempre. Em Enterrado, Ryan Reynolds passava o filme todo enterrado vivo, em Locke, Tom Hardy passava o filme todo num carro a conduzir e, que raio!, em Cabine Telefónica, Collin Farrell passava o filme todo numa… cabine telefónica(!). Mas agora há mais uma história bizarra para colocar nesta lista. Em Glorious, Ryan Kwanten passa o filme (quase) todo preso numa casa-de-banho de uma área de serviço, algures numa estrada nacional no meio de nenhures.

Mas esperem, a coisa não se fica por aqui. É que a razão de Kwanten não conseguir abandonar a casa-de-banho é a figura que está fechada na sanita do compartimento do canto (que tem um desenho dum monstro com um glory hole estrategicamente colocado na boca deste – vide imagem abaixo), com a voz radiofónica do J.K. Simmons, e que indica uma de duas coisas: ou é um bêbado a alucinar e a inventar uma história mirabolante; ou é uma criatura cósmica criada por um deus omnipresente, que parece rendido à humanidade do Homem e precisa de ajuda para não cumprir o seu destino de destruidor de mundos. Desconfiamos que a segunda opção é a correcta.

Glorious é uma bizarria extravagante, que apesar do humor, não se coíbe de se levar suficientemente a sério. Por entre um terror lovecraftiano, que parece poder explodir num qualquer body horror à Carpenter a qualquer momento, gore over the top e humor físico pateta à O Exército das Trevas, Glorious consegue manter-se durante mais de uma hora sem ter realmente uma história. É que Glorious é mais um episódio estendido de Twilight Zone do que realmente um longa duração.

Há ainda uns flashbacks que tentam dar profundidade a Glorious (e uma espécie de twist final, que baralha ainda mais as coisas do que explica), mas é no exercício de estilo que o filme se safa. Vê-se que Rebekah McKendry tem uma costela cinéfila de bom gosto e que andou a ver as coisas certas (se bem que já cansa a paleta de cores dos roxos, vermelhos e azuis, o Mandy veio esgotar este filão), JK Simmons tem uma voz daquelas à Luís Miguel Cintra em que lhe basta falar sem necessitar sequer de aparecer e, por entre uma experimentação mais subtil aqui e uma piscadela de olho a determinada referência acolá, Glorious sobrevive por entre o parvo e o bizarro. Com uma história a sério e seria ainda mais do que McChicken.

Título: Glorious
Realizador: Rebekah McKendry
Ano: 2022

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