| CRÍTICAS | Viver a Sua Vida

Se a definição “cinema de autor” alguma vez faz sentido é quando colocada ao lado do nome de Jean-Luc Godard. Com efeito, ver um filme do mestre francês dá-nos uma vontade indiscritível de fazer cinema e observar cada cena até ao mais infímo pormenor. É que Godard filma contra qualquer previsão, ao sabor dos impulsos, de forma imprevista e bem longe das cartilhas cinematográficas. E o que irrita é que resulta (quase sempre) extremamente bem.

Viver A Sua Vida é um dos filmes fundamentais da sua obra e um dos seus mais característicos. Registo experimental em doze cenas, não no formato da tragédia grega, mas antes na sequência de episódios mais-ou-menos não-lineares, Viver A Sua Vida é um filme delicado e observador, acerca de Nana (fabulosa Anna Karina, a provar o seu multi-facetismo), uma jovem adolescente à procura de respostas para a própria vida.

Tal como a Nana de Renoir, esta é uma actriz falhada, com poucas perspectivas de futuro pela frente, que a fazem mergulhar no Mundo da prostituição. O momento-charneira – e também momento-chave do filme -, é a fantástica cena em que assiste a A Paixão De Joana D’Arc no cinema, onde Godard cria um paralelismo entre Anna Karina e Maria Falconetti.

Humanizando o mundo da prostituição e dando dimensão humana suficiente a Anna Karina, Godard cria um filme simples, mas extremamente eficaz. Viver A Sua Vida faz-se de dois ingredientes: da actriz principal, Anna Karina, uma actriz completa e eclética; e dos diálogos (e monólogos), conversas inteligentes e interessantes, como a discussão com o filósofo francês Brice Parain numa mesa de café.

Curiosidade ainda o facto de encontrarmos em Viver A Sua Vida claras marcas do Pulp Fiction de Tarantino – uma cena musical ao som de surf-music, apesar de não ser tão apelativa quanto a de Bando À Parte; um diálogo sobre o silêncio; ou as semelhanças iconográficas entre o aspecto de Anna Karina e Uma Thurman. Contudo, apesar de fundamental, Viver A Sua Vida não é o melhor filme de Godard. Como gosto mais de outros, fico-me pelo McRoyal Deluxe. 

Título: Vivre Sa Vie
Realizador: Jean-Luc Godard
Ano: 1962

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