| CRÍTICAS | Pinóquio (1940)

Depois de Branca de Neve e os Sete Anões, Walt Disney tinha o mundo na mão. Tinha conquistado o público e a crítica estava rendida. Até Serguei Eisenstein veio tecer loas ao melhor filme de sempre, maravilhado pelas possibilidades imagináveis da animação. Por isso, Walt Disney não perdeu tempo a desenvolver os seus próximos projectos. Fantasia e Pinóquio estreavam no mesmo ano e ajudavam a criar o cânone da Disney: filmes com uma animação impecável, animais antropormofizados e uma forte mensagem moral para toda a família.

E se Fantasia deu protagonismo a Mickey, o rato que se tornaria no rosto (e no logo) da Disney, Pinóquio não lhe ficava atrás. When You Wish Upon a Star, a theme song do filme, tornar-se-ia na canção oficial, abrindo todos os filmes da Disney a partir daí e até então; o Grilo Falante, que era convocado para se tornar na consciência de Pinóquio, ganhava lugar de destaque na produtora; e até Figaro, o simpático gato que é o sidekick e comic relief do avôzinho Gepeto autonomiza-se e voltaria a aparecer em vários filmes futuros. Afinal de contas, Walt Disney confessava ser uma das suas personagens preferidas de sempre.

Pinóquio segue outra tradição de Walt Disney: a de se basear no folclore infanto-juvenil europeu (e não só), para actualizar as suas fábulas morais para os dias de hoje. Os filmes da Disney nunca desprezaram nomes como os dos Irmãos Grimm ou o de Hans Christian Andersen, apenas para citar dois dos mais famosos (e, de alguma forma, fundadores do conto infantil moderno), e Pinóquio vai buscar mais um. Neste caso é o italiano Carlo Collodi, que escreveu no seu jornal para jovens as histórias de um boneco chamado Pinóquio, ou não tivesse sido ele construído a partir de um tronco de um pinheiro.

Pinóquio é talhado pelo solitário Geppetto, um carpinteiro-relojoeiro que tem apenas a companhia de um gato e um peixe e, aparentemente, um trauma qualquer que lhe deixou um buraco por preencher. Por isso, certa noite, a Fada Madrinha vem à sua casa e dá vida a Pinóquio. Agora, depende dele tornar-se num menino de verdade, praticando o bem e sendo ouro de coração. Não é uma tarefa fácil, especialmente num mundo cheio de tentações (o João Honesto há de ser a primeira ameaça, uma raposa que o vende a um circo ambulante sob promessas de fama e sucesso e que personifica precisamente a… tentação) e de monstros (a baleia gigante que, no fim, os há de engolir, qual Jonas, chama-se precisamente… Monstro). Por isso, a Fada Madrinha incube o Grilo Falante de ser a sua consciência.

Pinóquio é assim uma sucessão de narrativas diferentes que, em conjunto, hão-de passar várias lições aos mais novos: mantenham-se na escola, não fumem, não vão na conversa de estranhos e, o pior de tudo, não queiram ser actores(!). Com uma animação impecável e aquela magia muito especial da Disney do seu período clássico, Pinóquio continua a fazer vibrar, divertir e comover. E When You Wish Upon a Star é mesmo uma canção especial. Assim como este McBacon.

Título: Pinocchio
Realizador: Norman Ferguson, T. Hee & Wilfred Jackson
Ano: 1940

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