| CRÍTICAS | Dahmer

Com a popularidade de Dahmer – Monstro: A História de Jaffrey Dahmer, a nova crime series da Netflix sobre Jeffrey Dahmer, faz sentido ir recuperar o filme que David Jacobson fez sobre o serial killer em 2002, levando-nos a entrar nesse ciclo vicioso que a própria série critica: a de aproveitar a desgraça alheia e o sofrimento das vítimas para glamourizar a violência. E tendo em conta que o realizador, além deste filme, também fez um sobre John Wayne Gacy e outro sobre William Bonin, então a coisa ainda mais peso. Mas quem é que consegue resistir ao apelo do capitalismo e à curiosidade mórbida?

Na verdade, tal como a série, também este Dahmer é mais do que um simples aproveitamento de toda essa infeliz história, que quando culminou com a prisão de Jeffrey Dahmer contabilizou 17 vítimas no total. Ou seja, Dahmer não se limita a ser um biopic de um tipo com sérios problemas mentais, que matou, desmembrou, comeu, violou e dissecou as suas vítimas. Dahmer procura antes tirar um retrato psicológico daquele homem e nem se preocupa em fazer um grande contexto de toda a história. Aliás, para quem não conheça alguns detalhes dos factos, existem episódios que podem ficar incompletos.

Ver Dahmer, o filme, depois de ver Dahmer, a série, é claramente uma mais-valia para compreensão da história. Por outro lado, o filme sai claramente a perder em relação ao casting. Não é que Jeremy Renner, anos antes de pegar no arco e flecha para a Marvel, faça um mau trabalho. No entanto, enquanto que o Jeffrey Dahmer de Evan Peters é um tipo completamente esvaziado de qualquer tipo de emoção, o de Renner tem lago de loucura e de fixação assassina na forma como encara as futuras vítimas. Ou seja, enquanto que o primeiro é perturbador, este é assustador.

Dahmer também não segue uma narrativa cronológica linear, já que vai saltando entre várias linhas temporais sempre que determinado momento o justifique. Isso ajuda David Jacobson a criar o retrato psicológico daquele assassino, ao justificar o momento B com o momento A e ao criar uma relação directa entre causa e efeito. No entanto, fica de fora a relação tensa de Jeffrey Dahmer com os pais, o hobby com a taxidermia ou um assumir mais claro de um problema de alcoolismo.

O filme é assim mais uma sucessão de vinhetas, que ajudam a completar um retrato psicológico daquela pessoa, mas sem o explicar nem tão pouco contextualizar. Por isso, apesar de ser uma boa surpresa o facto de não cair em sensacionalismos baratos e gratuitos, Dahmer saberá sempre a pouco. É que, além deste Cheeseburger, há uma série na Netflix que é um repasto bem mais satisfatório.

Título: Dahmer
Realizador: David Jacobson
Ano: 2002

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