| CRÍTICAS | Assim Como no Céu

A entrada na universidade é sempre um momento de transição importante na vida do indivíduo. Até porque isso representa, muitas vezes, a emancipação – é a primeira vez que o jovem adolescente sai da casa dos pais e vai viver sozinho para outra cidade. Não admira, portanto, que seja um elemento importante em muitos filmes coming of age. E isto tanto serve para os Estados Unidos como para a Europa, assim como para os nossos tempos como para o século XIX.

Ora vejamos Assim Como no Céu. Passa-se no final do século XIX, ambientado na Dinamarca e, mesmo assim, o tema não só é o mesmo como é igualmente pertinente. Lise (Flora Ofelia Hofmann Lindahl) é a filha mais velha numa família de sete irmãos e acaba de atingir a maioridade (que aqui são os 14 anos), o que significa que, em semanas, irá para a universidade (ou o que equivale ao nosso entendimento de faculdade nos dias de hoje. Digamos que vai para a escola…), abandonando o ninho pela primeira vez. E, com isso, vêm vários desafios.

O maior é, claro, a emancipação. Ir viver para longe pela primeira vez, sozinha… Depois há o pai (Thure Lindhardt), mais ausente do que presente por causa do trabalho, que nação aceita muito bem aquela ideia, já que considera a escola um desperdício de tempo. E, finalmente, há a mãe (Kirsten Olesen), grávida do oitavo filho, que provavelmente irá precisar de ajuda. Todas estas preocupações revelam-se num sonho algo prestidigitador, com que abre Assim Como no Céu: Lise caminha por um campo aberto sob um céu escarlate, que se abre para uma chuva de sangue sobre a sua cabeça. É uma cena fortíssima e que marcará o resto do filme.

Assim Como no Céu é um slow burner, mais meditativo do que descritivo, que acompanha Lise neste momento difícil da sua vida e do seu crescimento indivudal. E, como as coisas já não eram difíceis o suficiente, ainda vão piorar. A saúde da mãe parece começar a complicar-se e a ansiedade vai acumular-se em doses industriais. Atrelado a isto vem o peso da religião, a imiscuir-se no caminho da ciência, que torna tudo mais denso. A realizadora Tea Lindeburg utiliza os signos do cinema de terror para criar uma atmosfera que, por vezes, é sinistra, como se algo estivesse para acontecer para além da vida terrena.

Assim Como no Céu é um pouco tradicional coming of age, mas que parece sempre ser demasiado curto para um longa duração. Também há qualquer coisa na reconstituição histórica que raramente funciona, já que parece quase sempre falso – vemos actores a utilizar fatos falsos do antigamente em cenários demasiado perfeitinhos e nunca uma viagem atrás no passado. Isso não impede que o filme tenha momentos muito bonitos, que vão bem lado a lado com a dimensão reflexiva da história. Mas, no geral, o Cheeseburger deixa sempre o sabor na boca que isto precisava aqui de mais alguns pozinhos de perlimpimpim.

Título: Du Som Er i Himlen
Realizador: Tea Lindeburg
Ano: 2021

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