| CRÍTICAS | Um Inimigo Perfeito

Quando Um Inimigo Perfeito começa já Jeremiasz (Tomasz Kot) está a terminar a conferência que foi dar a Paris sobre o seu trabalho enquanto arquitecto (e o qual ainda percebemos que está cheio de ideias feitas sobre a beleza e a perfeição, o que não é inocente para o resto do filme). Mais uns minutos, uns autógrafos e uma outra fala e já Jeremiasz está também atrasado para apanhar o voo de regresso a casa, na Polónia. Até que entra em cena Texel Textor (Athena Strates), holandesa, como a própria faz questão de se apresentar a casa 5 minutos (e não é inocente para o resto do filme), que apanha boleia no mesmo táxi e que, de forma mais ou menos indirecta, fa-lo mesmo perder o avião.

Pouco depois, está Jeremiasz na zona VIP do aeroporto de Paris a aguardar pelos próximo voo (aeroporto esse que foi ele que projectou, pormenor que não é inocente para o resto do filme), quando aparece quem? Texel Textor, holandesa, adivinharam. A ideia é que, apesar de meio tontinha e chata, Texel Textor, holandesa, seja misteriosa o suficiente para captar o nosso interesse (e o de Jeremiasz) e não a deixemos ir embora. Contudo, ela é tão chata que já não sabemos o que fazer para nos livrarmos dela.

Por isso, quando começa a contar histórias sobre a sua infância que ninguém perguntou e as quais ninguém quer ouvir (e que são sobre dar de comer a gatos, o que não é inocente para o resto do filme PORQUE NADA AQUI É INOCENTE, MAS CONVÉM SUBLINHAR BEM A TRAÇO GROSSO PARA NÃO DEIXARMOS ESCAPAR NADA), é difícil aguentar a suspensão da descrença. Um Inimigo Perfeito passa demasiado tempo a construir o seu build up e sabe que está a perder o nosso interesse, por isso aposta tudo no grotesco e nas tiradas gratuitas de Texel (já mataste alguém? Eu já matei duas pessoas… então está bem, posso continuar agora a ler o meu livro em paz?).

Percebemos que Um Inimigo Perfeito é um thriller psicológico e que, no final, vai procurar juntar as peças todas que espalhou ao longo de 1 hora e fazer ta-dah, até porque Texel Textor, a holandesa, é ela própria um mcguffin. No entanto, já não bastava ser tudo muito frágil, o realizador Kike Maíllo ainda cola tudo com cuspo, rezando a todos os santinhos que aquele castelo de cartas que esteve a montar se aguente de pé e não soçobra ao vento. O mais surpreendente é que não cai mesmo e, por isso, recompensamo-lo com um Cheeseburger. Mas se amanhã estiverem mal da barriga não digam que não vos avisei.

Título: A Perfect Enemy
Realizador: Kike Maíllo
Ano: 2020

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