| CRÍTICAS | Vertigem Mortal

Os filmes-conceito têm tido um crescimento razoável nos últimos anos. São filmes que se baseiam numa ideia e que partem daí até não haver mais para espremer. Normalmente são filmes com um actor preso num local – um tipo enterrado vivo, um tipo numa cabine telefónica, uma tipo numa rocha em alto mar… – que, devido às limitações do conceito, acabam por ser apenas um gimmick. E, no entanto, Vertigem Mortal – duas amigas escavadoras acabam presas no topo da torre de comunicações mais alta dos Estados Unidos – não só tem um sub-enredo, como tem também, pasme-se!, um twist.

Além disso, Vertigem Mortal tem ainda um prólogo. Quando o filme começa, conhecemos Dan (Mason Gooding), a esposa Becky (Grace Caroline Currey) e a melhor amiga, Hunter (Virginia Gardner), a escalarem uma montanha. Ou seja, uma terça-feira à tarde normal para Tom Cruise… Depois Dan há de ter um acidente e… exacto, emotional damage para todos. O filme salta então 51 semanas (que precisão) e damos com a viúva, Becky, completamente off para a vida, a ignorar o pai (Jeffrey Dean Morgan) e a refugiar-se na bebida.

Eis então que entra em cena a melhor amiga. Hunter aparece uma tarde e convence-a a ir escalar uma torre de comunicações abandonada no meio do deserto, com mais de 600 metros de altura, que em tempos já foi a mais alta estrutura do país. São dois os objectivos: ultrapassar o medo voltando a escalar; e ultrapassar o trauma da perda, levando as cinzas do falecido marido para despejar do topo. Por momentos, o plano faz sentido e Becky aceita. Eis as duas amigas de volta para mais uma aventura e Vertigem Mortal pode finalmente começar.

É a partir daí que se faz o filme. Primeiro, o momento da escalada. A torre é realmente impressionante – uma estrutura mínima de metal, acessível por uma escada ferrugenta, cuja segunda metade nem sequer tem uma jaula de protecção. Depois, já no topo, a escada cai, a mochila tomba, os telemóveis não têm rede e as duas amigas ficam presas numa plataforma minúscula, 600 metros acima do solo. Ah, e há abutres a circular – o maior inimigo de Conan… -, atraídos pelo cheiro do sangue de uma ferida aberta na perna de Becky.

Vertigem Mortal é um filme par se ver no grande ecrã, de forma a tirar todo o proveito dos planos abertos acima do solo. Felizmente, o realizador Scott Mann não cai na tentação de recorrer aos planos de drone, esse flagelo do cinema moderno, mas o mesmo já não se pode dizer na banda-sonora triunfal e gloriosa, que parece que estamos a ver o Momentos de Glória. É pena esse lado de vídeo de Youtube, até porque uma das personagens é youtuber e influencer e, portanto, a ideia até deveria ser criticar esse mundo.

No entanto, se nos conseguirmos abstrair da música, Scott Mann até faz um trabalho impecável em manter o ritmo, a tensão e a adrenalina, num filme de sobrevivência extremamente físico e em condições mínimas. E, apesar da limitação de recursos – duas mulheres presas numa plataforma mínima -, Mann lá tira do chapéu o tal sub-enredo para esticar a coisa ainda mais um pouco. O que significa que, quando chega o twist, esse já era mais que dispensável. Vertigem Mortal já estava ganho. Tudo o resto é só enfartamento desnecessário neste eficaz McBacon.

Título: Fall
Realizador: Scott Mann
Ano: 2022

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