| CRÍTICAS | Black Adam

Uma coisa é certa: já começa a não haver pachorra para tanto herói em crise emocional. Depois de duas décadas com os filmes da Marvel a ficarem cada vez mais negros, pesados e cheios de angústia existencial, às vezes damos por nós a pedir apenas um filme de super-heróis com muita destruição gratuita sem olhar às consequências. E a DC Comics, que continua sem encontrar um rumo certo, tem tudo para começar a ganhar pontos, já que continuam a apostar em filmes mais esquemáticos do bem contra o mal. E isso aplica-se mesmo num filme com um anti-herói como Black Adam.

Nunca fui um adepto da DC e, talvez por isso, toda esta mistura de capitães marveis e shazams faz-me doer a cabeça. Mas pronto, ignoremos a Capitão Marvel da… Marvel, salvo a redundância, e centremo-nos no Shazam!, que vimos à relativamente pouco tempo no filme homónimo com Zachary Levi. Black Adam é o seu nemesis e, no entanto, este filme homónimo que serve para o introduzir (e para apresentar Dwayne Johnson finalmente a um universo cinemático) não podia ser mais diferente. Enquanto que Shazam! é uma espécie de Big dos super-heróis, com um miúdo que ganha poderes mágicos, Black Adam é um épico milenar que atravessa séculos, sobre um tipo que herda os mesmos poderes, mas em circunstâncias diferentes (e mais sérias). Por isso, como é ambos os universos se vão cruzar é algo para ver no futuro próximo com curiosidade.

Black Adam passa-se então em Kahndaq, um país imaginário no Médio Oriente, que se encontra controlado por uma espécie de máfia tecnocrata, os Intergang. Porque a história está sempre a repetir-se, ja há uns bons milhares de anos atrás que Kahndaq passou pelo mesmo, na altura escravizados por um faraó qualquer que os punha a trabalhar de sol a sol em busca de um mineral raro, o Eternium. Na altura, um miúdo de bom coração revoltou-se, ganhou poderes especiais e transformou-se no campeão que salvou o país. Por isso, Adrianna (Sarah Shahi) e a família acreditam que agora podem conseguir o mesmo, especialmente quando encontram uma coroa mágica e acordam Teth-Adam, vulgo Back Adam.

Quem nao acha piada nenhuma a ter um semi-Deus meio atordoado no mundo é a Sociedade de Justiça, aquele que é o primeiro grupo de super-heróis da história da banda-desenhada e que, apesar de três aparições televisivas, só agora ganha direito a estrelar no grande ecrã. Talvez porque parece um sucedâneo de todos os outros grupos, com os Vingadores à cabeça. Liderados pelo Falcão (quer dizer, pelo Hawkman (Aldis Hodge)) e com a ajuda preciosa do Doutor Estranho (perdão, o Dr. Fate (Pierce Brosnan)), o Homem-Formiga (o Atom Smasher (Noah Centineo)) e a Tempestade (leia-se a Cyclone (Quintessa Swindell)), a Sociedade de Justiça voa para Kahndaq para mais uma dose rápida de democracia e liberdade. Ou, trocando por miúdos, de imperialismo.

Dwayne Johnson, que ainda ninguém em Hollywood conseguiu perceber como é que conseguiu chegar aonde está, com todo o street cred que tem acumulado, tem aqui o super-herói para entrar para este mundo: um saco de músculos altamente inexpressivo. Aliás, Back Adam tem tanto aquele ar de máquina, que o realizador Jaume Collet-Serra até vai buscar inspiração directa a Exterminador Implacável 2 – O Dia do Julgamento Final, emparelhando-o com um miúdo (Bodhi Sabongui) que lhe vai explicando o novo mundo, ensinando-lhe one-liners para dizer aos maus e ensinando-o a não matar toda a gente. Onde é que eu já visto?

Depois, é o rame-rame do costume, sem aprofundar muito as coisas. Black Adam é derivativo o suficiente, Jaume Collet-Serra mantém sempre as coisas relativamente simples ligando o descomplicómetro (basta ver como, logo no início, Sarah Shahi encontra a gruta onde a coroa mágica está guardada há 5 milénios… é só subir uma montanha e lá está ela) e, o melhor de tudo, as sequências de acção (e de destruição) são legíveis e não-frenéticas. Só é estranho não terem apostado num vilão mais interessante. No final fica lançado o universo cinemático para, mais cedo ou mais tarde, Dwayne Johnson vir enfrentar o Super-Homem, mas a verdade é que ninguém vai querer rever outra vez este Happy Meal depois de o verem uma vez.

Título: Black Adam
Realizador: Jaume Collet-Serra
Ano: 2022

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