| CRÍTICAS | Noite Violenta

Não é que seja uma novidade (alguém que se lembra de Santa Claus Conquers the Martians?), mas nos últimos anos têm surgido com uma periodicidade que anual as ofertas natalícias mais subversivas. A culpa é de O Anti-Pai Natal, que veio provar que, afinal, existem bem mais pessoas que não gostam assim tanto do Natal quanto se pensa (ou, pelo menos, quanto a maioria diz gostar).

A proposta alternativa de Natal de 2022 foi Noite Violenta, mais um filme, tal como Matança de Natal, usa e abusa dos trocadilhos com expressões natalícias. E, tal como esse filme, também aqui se inventa uma origem cool para o próprio Pai Natal. Enquanto que no filme do Goldberg, o Pai Natal era um demónio condenado a distribuir presentes e felicidade depois de ter perdido uma aposta com um arcanjo numa partida de… curling(!), aqui o Pai Natal é um antigo viking sedento de sangue e destruição, que se arrependeu do seu historial de matança e que, por isso, tenta compensar todos aqueles que se portaram bem durante o ano.

No entanto, o Pai Natal que nos é apresentado logo no início – num prólogo bem subversivo, com o senhor barbudo a emborcar cerveja ao balcão de um bar manhoso, a amaldiçoar ter que ir trabalhar de noite e, depois, a vomitar sobre a empregada enquanto abala de trenó… – é muito mais parecido com o de Billy Bob Thornton. Aqui, o Pai Natal está cansado de tanta hipocrisia, falsidade e ganância do ser humano e tenta afogar isso em álcool e, provavelmente, droga (essa parte não aparece no filme, mas aposto que é verdade).

Entretanto, enquanto o Pai Natal faz uma pausa para mais uma jola na mansão de uma família de ricaços mimados e corruptos, um bando de assaltantes liderados por John Leguizamo invade a casa e faz todos reféns, Pai Natal incluído. A primeira reacção deste é pôr-se na alheta, mas acaba por ficar com o coração derretido pela mais nova da família (Leah Brady), que lhe pede ajuda. É que Noite Violenta pode inventar uma nova origem para o Pai Natal, mas faz-se valer também de muito do seu folclore tradicional. Por exemplo, o facto de perder força quando as pessoas não acreditam nele.

O Pai Natal (interpretado por David Harbour, que continua a construir a sua imagem de action hero muscular desde, especialmente, o Stranger Things) vai assim poder soltar o seu passado carniceiro, especialmente quando lhe chega às mãos a sua arma preferida: uma marreta. Noite Violenta não poupa no gore e tem matança do porco à discrição para toda a gente, ou não fosse o seu realizador Tommy Wirkola, o autor do também subversivo Os Mortos-Vivos Nazis.

O inesperado aqui é Noite Violenta transformar-se numa declarada variação do Assalto ao Arranha-Céus (talvez a querer encerrar essa eterna discussão de que se é um filme de Natal ou não). Tal como John McClane, o Pai Natal é um anti-herói que tem a infelicidade de estar no sítio errado à hora errada, passa por um par de momentos decalcados do filme de John McTiernan e até há uma cena em que tira do saco de prendas o blueray do próprio filme, edição especial de dois discos. Faltou apenas andar metido numa conduta de ventilação para o ramalhete ficar completo. Noite Violenta é estupidamente violento, sangrento e pateta, tudo adjectivos que adoramos e que raramente vemos associados a um filme natalício. Só pela ousadia, o McChicken já era justificado.

Título: Violent Night
Realizador: Tommy Wirkola
Ano: 2022

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