| CRÍTICAS | Barbarian

Para quem pensa em demasiado nas coisas, alugar um airbnb pode não ser fácil. Quem é que nos garante que o dono não é um serial killer que, à noite, vai entrar por ali dentro com a chave dele e matar-nos a todos? Barbarian explora este medo moderno e coloca-nos uma questão muito simples: o que faríamos se, ao chegarmos ao nosso airbnb, estivesse lá outra pessoa alojada? Aparentemente houve um erro no sistema e a reserva da outra pessoa parece legítima, mas o anfitrião não atende o telefone e os hotéis das redondezas estão todos esgotados por causa duma convenção qualquer na cidade. O que faria?

Essa situação acontece a Tessa (Georgina Campbell) e, apesar de muita hesitação, ela decide por passar a noite na casa. A escolha é feita depois de ponderar os prós e os contras. Por um lado, o tipo que está já na casa (Bill Skarsgård) parece suspeito de alguma forma, até porque não consegue calar-se e ser demasiado prestável. Ou então está só nervoso com a situação. E nós temos uma opinião formada sobre ele porque o vimos como o Pennywise, no recente remake de It. Por outro lado, a alternativa é passar a noite no carro, num bairro manhoso, e sabe Deus o que é pior. Portanto, Tess decide ficar.

O realizador Zach Cregger pode não ter em mãos a premissa mais original do mundo, mas sabe trabalha-la muito bem, explorando as tensões da situação em detrimento de sustos ou outros truques do género. No entanto, isso não o impede de ir introduzindo aqui e ali alguns elementos mais perturbadores, que nos vão deixando nervosos. Uma porta que estava fechada e agora está aberta, um som suspeito na outra divisão… Cregger domina bem esse jogo, com um cinema elegante, que se torna mais eficaz porque todos os elementos são comuns e banais e, portanto, tão realistas que podiam acontecer a qualquer um de nós numa próxima ocasião em que reservamos um airbnb. Ou seja, é fácil relacionarmo-nos com Barbarian.

E depois há a cave. Normalmente é nos sótãos que as casas assombradas revelam todos os seus terrores, mas aqui é no movimento descendente que tudo acontece. Tess fica trancada involuntariamente na cave, descobre uma porta secreta, vai dar a uma divisão com um colchão ensanguentado e uma câmara de vídeo e uma rede de túneis. Barbarian, de repente, passa a ser sobre outra coisa. E depois há uma criatura, algo que parece saído do [Rec] (mas sem o found footage), e já nada volta a ser o que era. Como o próprio Zach Cregger descreveu, Barbarian é David Fincher no rés-do-chão e Sam Raimi na cave.

Entretanto, Barbarian termina mesmo e, contra todas as previsões, começa novamente. Esqueçam a história que estávamos a seguir com Tess e Bill Skarsgård. Foquemo-nos agora em Justin Long, um pintas de Hollywood acusado de violação por uma das suas actrizes. Mais volta menos volta no argumento e vamos dar à mesma casa. E daí até à cave é um pulinho. Mas esperem, isto ainda não acabou. Barbarian recomeça novamente e desta vez com um salto no tempo. Agora estamos nos anos 80, no início do fim daquele bairro, quando tudo começou a piorar.

No final, as três histórias irão cruzar-se e reunir-se no fio narrativo final, mas aí já Barbarian é um filme completamente diferente do que era inicialmente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente. É certo que o creature movie em que se transforma não é tão interessante quanto o filme de terror mais psicológico que é durante a primeira “história”, mas Barbarian é eficiente o suficiente para se transformar num dos bons filmes de terror de 2022. E o McChicken deixará lastro para o futuro. Mantemos Zach Cregger debaixo de olho, mais coisas boas deverão vir dali.

Título: Barbarian
Realizador: Zach Cregger
Ano: 2022

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