| CRÍTICAS | M3gan

Gemma (Allison Williams) tinha tudo para ser a tia fixe da sua sobrinha, Cady (Violet McGraw): é jovem, solteira e vive sozinha numa casa enorme; trabalha a inventar robôs; e tem a casa cheia de brinquedos. Mas Gemma é workaholic e super-aborrecida nas festas; o robô em que está a trabalhar é um “animal doméstico vitalício”, que parece uma versão ainda mais irritante do Furby; e o que tem em casa não são brinquedos, são coleccionáveis que não podem sair da caixa e, portanto, não são para brincar. Por isso, quando os pais de Cady morrem num súbito acidente de viação e a jovem vai viver com a tia, são como duas estranhas na mesma casa.

Além disso, tia e sobrinha invertem os papéis. Enquanto que Gemma não se importa com quanto tempo a sobrinha passa agarrada ao tablet ou ao computador, sem sequer pensar em colocar qualquer limite de screen time, Cady procura-a insistentemente por contacto humano. Normalmente é o contrário. No entanto, não se pense que esta foi uma qualquer decisão disruptiva do realizador Gerard Johnstone, na tentativa de inverter a forma pré-concebida como nós, adultos, percepcionamos os jovens desde a geração millenial. Tendo em conta a forma quase maníaca como o filme vai tocar em todos os lugares-comuns, só podemos concluir que essa foi uma decisão involuntária.

De facto, M3gan é um filme altamente esquemático, que não só repete todos os clichés do género, como faz questão de não deixar nenhum de fora. Por isso, quando Gemma inventa uma robô de formas quase humanas (parece uma das gémeas Olsen com um montão de filtros do Instagram em cima), tão perfeita quanto assustadora, que utiliza a inteligência artificial para aprender e evoluir, de forma a dar companhia e conforto emocional à jovem órfã, já sabemos onde é que tudo vai parar: a boneca, chamada precisamente M3gan (com um 3 e tudo, que é para dar um ar de modernaço), vai-se tornar cada vez mais protectora da dona, até se tornar numa ameaça para todos os que a rodeiam. Desde O Exterminador Implacável que andamos a falar da ascensão das máquinas, não é?

Já vimos esta história anteriormente. Aliás, o cinema de terror está cheio de bonecos que ganham vida e se tornam em máquinas de matar, desde Chucky, O Boneco Diabólico (que M3gan homenageia directamente em várias cenas) até a Annabelle. Não há nada de mal nisso, é uma forma perfeitamente legítima de montar um filme de terror. E nem sequer esperamos grandes explicações lógicas ou racionais. É certo que o facto de M3gan nunca ser carregada é um plothole do tamanho dela própria, mas até isso estávamos dispostos a esquecer se o filme nos entretesse com algum gore requintado e imaginativo. Mas não! M3gan é todo ele série b, mas apenas nas más partes.

Os diálogos de M3gan variam entre o cringe (aquela palavra odiosa que a geração z usa muito e que eu também gosto de repetir para parecer modernaço) e o extremamente descritivo que é para que todos tenham a certeza que estamos a perceber o filme (especialmente os da jovem Cady, que parecem lidos directamente do teleponto, de tão complicados que são), o argumento evolui por entre o previsível e o faceplam (outro estrangeirismo que eu uso para parecer fixe) e tudo explode em xungaria do pior. Prova a) M3gan a cantar David Guetta como canção de conforto para a dona; prova b) M3gan a fazer uma dança sensual antes de matar o chefe da empresa, só porque sim; prova c) o filme terminar com um momento de combate de robots, como uma versão de mini-mechabots (ou um episódio mau do BattleBots). Enfim, a única coisa pior que este Hamburga de Choco é pensar que isto ainda é capaz de dar origem a umas quantas sequelas.

Título: M3gan
Realizador: Gerard Johnstone
Ano: 2022

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