| CRÍTICAS | Mad Heidi

Já sabíamos que, este ano, iríamos ver o Ursinho Pooh a virar a casaca e a transformar-se num perturbador serial killer (quem também está ansioso por Blood and Honey que levante a mão), mas afinal foi a Heidi que chegou primeiro. A mais famosa órfã dos Alpes suíços chega-nos agora numa produção independente financiada por crowdfunding, em formato mata-nazis. Os autores chamam-lhe swissploitation e a descrição assenta-lhe que nem uma luva. Mad Heidi é o novo filme de culto que vem suceder a coisas desbragadas como Mutant Blast, Kung Fury ou Die You Zombie Bastards!.

Estamos então numa Suíça alternativa e distópica, mas com mais clichés helvéticos do que o teledisco do José Figueiras a cantar o tirolês, governada por um tirano demente e cruel, o Presidente Meili (Casper Van Dien, esse mesmo, o de Soldados do Universo), que gere com mão de ferro um país que faz do queijo uma religião. Os intolerantes à lactose são assim perseguidos e mais odiados do que os judeus durante o Holocausto. Ah, e parece que há também um plano qualquer para desenvolver um super-queijo com um alto nível de lactose, que transforma quem o come em soldados-mutantes-obedientes. Ou algo do género, porque isso já não interessa nada.

Entretanto, os soldados do regime irão matar o namorado da Heidi (Alice Lucy), depois o avozinho, antes já lhe tinham morto os pais e ainda a vão prender e torturar. Em suma, big mistake! Quando consegue fugir, Heidi acaba por encontrar Helvetia, a deusa da nação, que a irá treinar e transformar numa máquina de matar imparável numa daquelas montagens musicais em que o herói se prepara em poucas semanas para aquilo que demoraria anos a treinar.

Mad Heidi é então um mash up de referências de pessoal que cresceu nos clubes de vídeo – neste caso os realizadores Johannes Hartmann e Sandro Klopfstein – e que presta tributo a vários sub-géneros do cinema de acção e da exploitation. E, claro, pega emprestado todos os lugares comuns dos Alpes suíços, desde a série da Heidi até ao Música no Coração, claro. Há tributo aos filmes de mulheres-na-prisão com muitas maminhas ao léu, referência directa aos banhos de sangue de Takashi Miike (com Ichi The Killer a ser homenageado e tudo), copycat dos filmes de vingança no feminino (de Lady Snowblood a Kill Bill, claro, até porque Tarantino é sempre incontornável quando as novas gerações se atiram a recuperar o passado) e, claro, muita nazixploitation.

Há duas vantagens em Mad Heidi quando o comparamos com outros filmes do género: é que, apesar de ser um série b de baixo orçamento, consegue ter bons valores de produção, que torna tudo mais credível (e, claro, os habituais efeitos-especiais práticos bem sangrentos, à Mutant Blast); e, no meio de toda a maluqueira, tem uma história com tronco, pernas e membros, que apesar de se basear num monopólio global à base do queijo (e mutantes à base de queijo e máfias de queijo e tudo com queijo), faz sentido e não deixa o filme ser apenas um aglomerado de cenas em que os autores se divertem mais do que quem assiste. Obviamente que Mad Heidi terá o seu lugar muito próprio an história do cinema, mas quem sabe do que estamos a falar certamente que apreciará este McBacon (com queijo extra).

Título: Mad Heidi
Realizador: Johannes Hartmann & Sandro Klopfstein
Ano: 2022

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