| CRÍTICAS | Sedutora Endiabrada

Agora que assistimos ao comeback de Brendan Fraser, com A Baleia, começou-se a reavaliar toda a sua filmografia anterior. E, em regra, tem-se assistido a uma divisão entre dois títulos. Há os que defendem George – O Rei da Selva como obra-prima incompreendida (o filme que todos odiavam (ou amavam em segredo) e que agora todos parecem venerar) e os outros, os mais snobes, que apontam Deuses e Monstros. Mas estão todos enganados. O filme de Brendan Fraser que vale mesmo a pena recordar é Sedutora Endiabrada.

Sedutora Endiabrada é o remake de Os Sete Desejos, clássico da comédia de Hollywood do período áureo, assinado pelo muito respeitável Harold Ramis (esse mesmo, o de O Feitiço do Tempo e Que Paródia de Férias). A história é do mais básico que há. Brendan Fraser é um falhado que é constantemente ignorado pelos amigos, colegas de trabalho e mulheres em geral e que, certo dia, desabafa: quem me dera que fulana xis gostasse de mim. E voilá, é o suficiente para o Diabo aparecer do nada, sob a forma da escultural Elizabeth Hurley, com um negócio da China para propor.

O Diabo promete-lhe então sete desejos em troca da alma e não é preciso sequer termos visto Três Mil Anos de Desejo para saber que os desejos mágicos dos génios nunca correm bem. Basta pensar nas milhentas anedotas que existem sobre o tema. E é precisamente isso que Sedutora Endiabrada vai explorar, num encadeamento de episódios, à medida que Fraser vai pedindo os desejos e estes saem sempre furados, normalmente por uma questão de semântica bem contornada pelos demónio (o Diabo está nos detalhes, não é o que diz a populaça?).

Enquanto que no filme original ok Diabo era encarnado por Peter Cook, aqui Harold Ramis troca-lhe o género. E Sedutora Endiabrada é apenas um pretexto para Elizabeth Hurley se exibir em vários vestidos mínimos e justos, que, diga-se de passagem, ficam-lhe sempre bem, lembrando-nos também porque é que a sua carreira nunca deu para mais do que isso. E, na verdade, o filme até é todo seu – algo que a tradução em português do título reconhece, em mais um daqueles casos em que revela mais do que necessário. Fraser só está lá para encher e, na verdade, é ele que permite dar uns pozinhos extra ao filme, lembrando-nos que sempre teve a ver pouco com os overactings dos seus colegas de geração (olá Adam Sandler, olá Robert Schneider…). Fraser faz de atleta de alta competição com todos os clichés associados, de barão da droga sul-americano, de romântico super-sensível… No chão da sala de edição ficou ainda uma outra sequência, em que fazia de estrela rock, e que deveria ser uma extensão de Cabeças Ocas.

Quanto a Harold Ramis, sem inventar propriamente a roda, limita-se a gerir as expectativas, mas sem por isso dar um ou outro toque pessoal, com um humor meio louco, que tanto faz lembrar o Saturday Night Live e a revista Mad, como o humor absurdo do ZAZ Style. Por isso, apesar de pateta, Sedutora Endiabrada é um filme feliz, que não ofende e que é o McChicken do passado de Brendan Fraser que vale a pena rever.

Título: Bedazzled
Realizador: Harold Ramis
Ano: 2000

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