| CRÍTICAS | Pinball – The Man Who Saved the Game

Quem viu Licorice Pizza não irá ficar surpreendido com Pinball – The Man Who Saved the Game, ao saber que as populares máquinas de flippers estiveram banidas de vários estados norte-americanos durante anos. Pinball explica-nos melhor a razão dessa estranha proibição, que vista agora à distância parece ainda mais bizarra. LaGuardia, o antigo presidente da câmara de Nova Iorque, havia prometido o combate ao jogo, mas ao não conseguir vencer o lobby da máfia, virou-se para um alvo mais fácil: as máquinas que pinball, que considerou um jogo de azar que andava a degenerar os jovens.

Pinball conta a história de Roger Sharpe, um entusiasta do jogo que contribuiu decisivamente para o levantamento da proibição. Para isso, mostrou ao vivo que o pinball era um jogo de habilidade e não de azar. A sério que havia mesmo quem se importasse com isso? Bem, algumas pessoas, não muitas. E isso justificava um filme? Provavelmente não. E o próprio realizador, Austin Bragg, há de o reconhecer (porque o filme está cheio de referências meta) que o caso é apenas uma nota de rodapé na história. Mas isso não o impede de fazer, juntamente com o irmão Meredith, um filme tão válido quanto, sei lá… O Urso do Pó Branco?

Pinball é assim um biopic cruzado de documentário. Confuso? Não é preciso, é tudo muito simples. O próprio Roger Sharpe está presente para contar a sua história, enquanto narrador activo, que muitas vezes interrompe a história para criticar a liberdade criativa dos realizadores. Outras vezes, são os próprios manos Bragg a interrompe-lo, quando este começa a afastar-se demasiado do tema central, o que acontece geralmente quando fala de Ellen (Crystal Reed), a mulher da sua vida. E ainda outras tantas vezes, Roger Sharpe e Dennis Boutsikaris, o actor que o encarna na reconstituição romanceada dos factos (com igual bigodaça majestosa) coincidem no ecrã, lado a lado.

Podemos então dizer que Pinball é um docudrama, mas que não tem nada a ver com os documentários ficcionado com que o novo cinema português se tem especializado nos últimos anos. É uma versão pop desse cinema, um Great Yarmouth – Provisisonal Figures em modo feelgood movie, por exemplo.

Roger Sharpe era então um aspirante a escritor, que encontrava na máquina de flippers um escape e uma fonte de inspiração. E quando começou a escrever sobre isso para uma então muito recente GQ, despertou um interesse generalizado pelo jogo. Paralelamente, Pinball conta ainda a história da sua relação com Ellen, que conhece casualmente num elevador: uma mulher mais velha, divorciada e com um filho. E é precisamente esta história de amor que dá a Pinball o toque que lhe faltava, conferindo-lhe uma escala mais humana e pessoal. O romance entre Sharpe e Ellen é uma história tão normal de boy meets girl, entre duas pessoas que se esforçam por construir uma relação conjunta, sem nada da idealização do amor em que a maioria dos filmes cai, que é impossível não nos identificarmos com ela. Parece algo simples, mas não é. Os irmãos Bragg é que o fazem parecer fácil. E, por isso isso, Pinball – The Man Who Saved the Game é um interessante McBacon.

Título: Pinbal – The Man Who Saved the Game
Realizador: Austin Bragg & Meredith Bragg
Ano: 2022

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