| CRÍTICAS | Quanto Mais Idiota Melhor

No início dos anos 90, os stoners dominaram o mundo, a reboque dos Nirvana, dos Pearl Jam e de todo o movimento grunge, que veio revitalizar todo o rock de guitarras. Isso criou uma série de comédias stoner com relativo sucesso que, tal como o Beavis e Butt-Head, rapidamente se desvaneceram na espuma dos dias. Em 2023, olhando para trás com a devida distância temporal, parece que tudo isso foi uma história longínqua, que aconteceu há uns 30 anos. Ei, esperem lá…!

Quanto Mais Idiota Melhor foi uma dessas comédias e, provavelmente, a que mais sucesso teve, até porque foi a única que teve direito a sequela. É fácil perceber porquê, uma vez que Wayne Campbell (Mike Myers) e Garth Algat (Dana Carvey) são uma espécie de versão de carne e osso de Beavis e Butt-Head. Isso não quer dizer que tenha sido necessariamente o melhor filme desse sub-género. Para isso há o Juventude Inconsciente e A Fantástica Aventura de Bill e Ted, claro. Mas Quanto Mais Idiota Melhor tem um espaço muito particular reservado nesse rodapé da história do cinema, até porque é um dos spin-offs mais bem sucedidos de sempre do Saturday Night Live, essa instituição do humor norte-americano.

Mike Myers (que era então apenas um jovem promissor, com um estilo de humor que é uma espécie de gosto adquirido) e Dana Carvey (que era o grande nome do SNL de então) são dois bff, stoners e altamente patetas, que têm um talk show independente filmado na cave de um deles, onde dizem vezes demasiadas excellent e comentam fotografias de modelos giras com expressões do tipo “schwing”, acompanhadas de movimento pélvico a condizer. A coisa é suficientemente desmiolada para rirmos de tamanho niilismo, mas o empresário Ron Lowe vê ali uma oportunidade de negócio, comprando o formato para o revender a um patrocinador com dinheiro a mais para gastar. Só que, no final, tudo se vai resumir a Tia Carrere, a líder de uma banda rock (óptima versão do Ballroom Blitz, cantada pela própria), que ambos vão disputar.

Ou seja, não é propriamente pela história que alguém vai ver ou recordar Quanto Mais Idiota Melhor. É antes pelo humor parvo, situações absurdas e, claro, a música rock (se bem que, na altura, a banda-sonora parecia ser bem mais forte…). E há coisas bem aleatórias em Quanto Mais Idiota Melhor, como o cameo do T-1000 (Robert Patrick vestido de polícia, de mota e óculos escuros de aviador) à procura de John Connor. Parece saído directamente de um Aonde É Que Para a Polícia e é uma das cenas mais lembradas do filme, só ultrapassada por aquela no carro, ao som do Bohemian Rapsody, com head banging poderoso, que foi responsável por recuperar os Queen para o público norte-americano.

Por entre o humor fácil, os trocadilhos que devem ter sido escritos por algum tio de um deles e os gags físicos de Dana Carvey, há inesperadas situações inteligentes e com graça, Mike Myers a quebrar regularmente a quarta parede, um Ed O’Neill fatalista ao balcão de um diner, Rob Lowe em versão castiça a recuperar a carreira no pós-sex tape e Tia Carrere a lembrar-nos porque era uma das paixões platónicas da maioria dos adolescentes dos anos 90. Também há algum humor datado, mas nada ofensivo ou escatológico, daqueles que nos fazem sentir vergonha alheia, o que, só por isso, é desde logo assinalável.
Wayne’s World! Party Time! McChicken! Excellent!

Título: Wayne’s World
Realizador: Penelope Spheeris
Ano: 1992

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