| CRÍTICAS | Dungeons & Dragons – Honra Entre Ladrões

A fantasia nunca esteve tão bem de saúde e, por isso, os filmes de sword and sorcery sucedem-se. Os especialistas em cinema dizem que se deve ao facto dos efeitos-especiais terem atingido um nível que, finalmente, permitem criar estes mundos alternativos de forma credível, mas no fundo toda a gente sabe que a verdadeira razão prende-se com o facto de todos os geeks e nerds terem crescido e serem eles agora que mandam em Hollywood. Por isso, fazia todo o sentido fazer-se um novo filme Dungeons & Dragons. Por dois motivos: primeiro, por D&D foi a porta d entrada e a formação para a maioria dos nerds; e segundo, para compensar aquele desastre épico que foi Masmorras e Dragões.

Eis então Dungeons & Dragons – Honra Entre Dragões, o reboot ao franchise e o filme que promete ser o primeiro episódio de uma nova longa série. E, pelo menos, parece acertar no tom certo. É que o filme nunca se leva a sério, até porque é difícil por vezes encarar com cara séria o nome das coisas ou as criaturas. Os realizadores, John Francis Daley e Jonathan Goldsteins, eles próprios nerds confessos (aliás, o primeiro até entrava numa série chamada precisamente Freaks and Geeks – A Nova Geração), conhecem o material que têm em mãos e sabem que o humor faz parte de um filme deste género.

Só não era necessário terem ido buscar Chris Pine para protagonista principal na pele do harpista (e líder do grupo) Edgin, em versão (ainda mais cabotina) de Ryan Reynolds. Parece que Reynolds se tornou no modelo deste tipo de herói, espertalhão e auto-depreciativo, influenciando Chris Pratt ou Zachary Levi, por exemplo. Bem mais graça tem o facto dos heróis de Dungeons & Dragons – Honra Entre Ladrões serem na verdade anti-heróis, de moral duvidosa. Afinal de contas, como o próprio subtítulo indica, todos eles são ladrões, vigaristas ou espertalhões de alguma forma. Contudo, como sabemos, o que conta é sempre o interior e, como quase sempre acontece nestes casos, isto é sempre gente com boas intenções e corações nobres, ensinando-nos que não devemos julgar ninguém.

Assim, além de Edgin/Chris Pine, temos também a sua fiel parceira, Holga (Michelle Rodriguez), uma brutal máquina de luta; o feiticeiro com problemas de auto-estima e de confiança Simon (Justice Smith); e a metamorfa Doric (Sophia Lillis). Os quatro vão unir forças por motivos diferentes, mas com um objectivo comum: derrotar o déspota Forge (um Hugh Grant a divertir-se à grande e a assumir de vez o seu novo papel de gozão (viram-no na carpete champanhe da última edição dos Oscares?), reformando-se então das comédias românticas e do papel de galã), que na verdade está a ser manipulado por uma feiticeira demoníaca, Sofina (Saisy Head). E esta é uma vilã verdadeiramente assustadora, com uma caracterização óptima, lembrando-nos que até os filmes descontraídos necessitam de vilões de verdade para serem levados a sério.

Dungeons & Dragons – Honra Entre Ladrões limita-se então a saltitar de episódio em episódio, mais numa lógica de empilhamento do que propriamente num arco narrativo de causa e efeito, que na verdade é como acontecem as verdadeiras jornadas do jogo de tabuleiro. E os realizadores vão aproveitando para irem buscar alguns lugares-comuns do género para os desobstruírem com humor, como é o caso do cameo de Bradley Cooper, o anão ex-namorado da muscular Michelle Rodriguez. Dungeons & Dragons – Honra Entre Ladrões é derivativo, recicla tudo e mais alguma coisa e não traz propriamente nada de novo para a mesa? Sim, é mais ou menos isso. E isso é mau? Não necessariamente. Vê-se sem enfado e, apesar de relativamente esquecível, garante duas horas de entretenimento honesto. O que podemos pedir mais num Double Cheeseburger?

Título: Dungeons & Dragons – Honor Among Thieves
Realizador: John Francis Daley & Jonathan Goldstein
Ano: 2023

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