Nos últimos tempos, devido às novas dinâmicas de produção em Portugal, o cinema nacional tem-se aproximado da sua própria história recente, sobretudo através do biopic. E, em particular, debruçando-se sobre a sua própria cultura popular. No campo da música tivemos recentemente Variações e, agora, Bem Bom, dedicado à primeira girls band portuguesa, As Doce.
Além disso, Bem Bom vem ainda atrelado a outra das tendências actuais da produção nacional portuguesa, que é simultaneamente um dos seus grandes flagelos: o facto dos filmes serem feitos já a pensar no formato para a sala de cinema e em formato série, para a televisão. É o outro lado da moeda dessas novas dinâmicas de produção de que falava no parágrafo anterior. Ou seja, isso faz com que os filmes nunca sejam obras completas, para o grande ecrã, nem sejam obras satisfatórias para se ver por episódios no pequeno ecrã.
Bem Bom sofre claramente desse mal, já que é um filme demasiado curto para a longa-duração. Nota-se a milhas de distância que fica ali a faltar muita coisa importante. A realizadora Patrícia Sequeira, provavelmente a perceber que não tinha tempo para desenvolver as quatro membros da banda da mesma forma, optou por cortar tudo. O que sobra é um filme sobre as Doce enquanto entidade colectiva e não sobre as quatro mulheres, de personalidades diferentes, que integraram a banda.
É assim um biopic muito chapa quatro, dando prioridade aos factos mais importantes da banda desde a sua formação, magicada por Tozé Brito (interpretado por Eduardo Breda), até quase ao final, nomeadamente à gravidez de Lena Coelho (Carolina Carvalho) – Ágata ficou de fora desta história e veio-se logo queixar. E, apesar de não se furtar ao escândalo maior da história da banda, nomeadamente o boato sobre o caso entre Lena Coelho e o jogador Reinaldo, a verdade é que Bem Bom é uma espécie de greatest hits da banda, procurando demonstrar aos mais desatentos que as Doce merecem um lugar de maior respeito na história da música portuguesa. E, por isso, Patrícia Sequeira assume essa missão de celebração, recriando as roupas e os palcos e, sobretudo, recriando as actuações, com longas sequências musicais com as canções quase completas, em espectáculos deliciosamente falsos. Por isso, Bem Bom não é uma biografia para se ficar a saber qualquer coisa sobre as Doce, mas sim um filme para se celebrar belos pedaços de pastilha elástica musical, como o Bem bom, o Ali Babá o o Ok KO. E, por isso, o McChicken sai já inflaccionado pelo reconhecimento prestado ao grupo.
Título: Bem Bom
Realizador: Patrícia Sequeira
Ano: 2021