| CRÍTICAS | John Wick – Capítulo 4

Quem diria que aquele simples revenge movie em que Keanu Reeves se vingava dos maus que lhe matavam o cão se iria tornar numa quadrilogia com o seu próprio universo cinematográfico? Sem que ninguém do antevisse, John Wick tornou-se no mais bem sucedido franchise dos últimos tempos, que não só não tem nada a ver com a Disney, como é material totalmente original, que não adapta nenhuma banda-desenhada ou graphic novel.

Estamos então num mundo sofisticado de assassinos a soldo, regidos por um rígido código de conduta e honra, mas que, apesar de cenários caros e viagens por várias cidades do mundo, pouco tem a ver com o universo de James Bond. Esta é mais uma espécie de maçonaria sanguinária, com porrada à bruta pelo meio. E para quem tem acompanhado os filmes anteriores sabe onde John Wick – Capítulo 4 começa. Keanu Reeves, o próprio John Wick, o mais temido assassino de todos, quebrou as regras da guilda (por honra, claro, e não por despeito ou desfaçatez) e agora tem meio mundo no seu encalço, até porque há uma recompensa de 20 milhões de dólares pela sua cabeça.

Se um dos segredos do sucesso do primeiro John Wick (e do segundo, vá lá) foi o facto de ser um filme sem merdas, totalmente livre de gorduras, o mesmo não se pode dizer deste quarto tomo. John Wick – Capítulo 4 engordou e tem quase 3 horas de distância. No entanto, a sua estrutura não mudou e continua a obedecer à lógica do jogo de vídeo: de x em x tempo, John Wick muda de cenário para mais uma sessão de sopapo, com um boss no final. Só que aqui tudo é maior, faz mais barulho, as explosões são mais destrutivas e o bodycount multiplicou por onze.

A guilda dos assassinos dá então poderes totais ao Marquês de Gramont (Bill Skarsgård, tão irritante quanto odiável – é um elogio) para caçar Wick. Este contrata o seu antigo colega de armas, Caine (Donnie Yen), um espadachim cego que é uma espécie de Zatoichi moderno (e uber cool). Entretanto, pelo meio, também entra em cena o duro e misterioso Shamier Anderson, que responde pelo nome de Nobody, como se o realizador Chad Stahelski quisesse afrontar pessoalmente Ninguém, o único filme de acção que, nos últimos tempos, fez alguma sombra à sua série John Wick. Ah, e Shamier Anderson também tem um cão, continuando a tradição de John Wick e a sua relação com os canídeos.

A partir daí, John Wick vai viajar por Nova Iorque, Osaka e Berlim, até ao grand finale em Paris, deixando um rasto de cadáveres atrás de si, incluindo um gordalhão de dentes de ouro tipo Rei do Crime/Kingpin, uma cena memorável an rotunda do Arco do Triunfo que faz lembrar as acrobacias motorizadas da ozploitation, uma sequência vista de cima numa casa cheia de bandidos e com Keanu Reeves armado com uma shotgun de balas explosivas e uma luta que nunca mais acaba a subir (e a cair de) uma escadaria de 222 degraus. Ah, e o último acto de John Wick – Capítulo 4 ainda presta tributo directamente a Os Selvagens da Noite, com uma DJ que vai aumentando a recompensa pela cabeça de Wick por entre discos pedidos.

Ou seja, boas ideias não faltam a John Wick – Capítulo 4. E é sempre agradável ver porrada de meia-noite non-top e bodycount incalculável. No entanto, três horas disso não deixa de ser um pouco redundante, o que faz de John Wick – Capítulo 4 o episódio pior de toda a quadrilogia. Ou seja, é um McChicken ligeiramente inferior aos seus antecessores, até porque, já perto do final, ainda tem o seu momento à Super-Homem versus Batman, quando estes fazem as prazes depois de perceberem que as suas mães têm o mesmo nome. Aqui, Keanu Reeves e Shamier Anderson enterram o machado de guerra depois do primeiro salvar o cão(!) do segundo.

Título: John Wick: Chapter 4
Realizador: Chad Stahelski
Ano: 2023

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