| CRÍTICAS | Renfield

O Drácula é possivelmente uma das personagens mais adaptadas ao cinema de toda a história da sétima arte. Logo em 1922, Murnau fez Nosferatu e, desde então, tem havido uma lista interminável de variações, declinações e versões deste vampiros com um apetite especial por pescoços femininos.

Nem a propósito, numa altura em que está em produção mais um remake de Nosferatu (cortesia do mui estimável Robert Eggers e igualmente com Hould no elenco), chega-nos uma das mais particulares adaptações do Drácula. Estamos habituados a vê-lo como metáfora (mais ou menos literal) do Mal, da sensualidade e até do deboche, mas nunca o tínhamos visto assim, como símbolo das relações tóxicas. Daí que o filme tome como título o nome do seu eterno ajudante, Robert Montague Renfield.

Estamos então na actualidade e Renfield (Nicholas Hoult) continua a servir o seu mestre como desde o primeiro dia. Ou seja, há mais de 85 anos, uma vez que Renfield é como uma sequela directa do Drácula, de Tod Browning. Aliás, na sequência inicial, o realizador Chris McKay até vai buscar imagens desse filme e altera digitalmente as caras do Renfeild e do Drácula originais pela de Nicholas Hoult e… Nicolas Cage.

Sim, Cage faz de Drácula e cumpre o seu segundo sonho de criança. Segundo reza a lenda, Cage decidiu ser actor porque um dia queria interpretar o Super-Homem, o conde Drácula e o Capitão Nemo. Depois de ter dado voz ao primeiro, em Teen Titans Go! O Filme, e de ter feito Renfield, fica-lhe a faltar o último. E, diga-se, o papel de Conde das Trevas fica-lhe bem, até mesmo quando entre em modo fully cage. Afinal de contas, passou uma vida inteira a preparar-se para este papel.

Renfield aproveita então este imaginário fantástico para falar de coisas sérias a brincar, numa comédia de acção sobre relacionamentos abusivos, que faz lembrar O Que Fazemos nas Sombras pela forma como descontrói os signos do género do filme de vampiros. Além disso, como é uma comédia com criaturas sugados de sangue e outras que ganham poderes especiais por cometerem insectos, permite-se aproximar da irrisão muito rapidamente. E isso reflecte-se nas sequências de acção, que são literais banhos de sangue. Esqueçam a violência altamente estilizada de John Wick, estamos a falar de pornografia gore de um Peter Jackson dos bons velhos tempos (vide Morte Cerebral, por exemplo). E com este McBacon, Chris McKay começa a construir uma filmografia muito interessante.

Título: Renfield
Realizador: Chris McKay
Ano: 2023

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