| CRÍTICAS | Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa

Sherlock Holmes já tinha sido alvo de um reboot há relativamente pouco tempo atrás e, mais recentemente, foi a vez de Hercule Poirot. Por isso, não é de admirar que tenha chegado a vez de Philip Marlowe. Até porque o detective criado por Raymond Chandler já tinha tido o seu próprio reboot na literatura, cortesia de Benjamin Black (pseudónimo do escritor John Banville).

Aliás, este Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa adapta precisamente um dos títulos de Black, The black eyed blonde. E, tal como o escritor, é adaptado por um autor irlandês, Neil Jordan, que, por sua vez, escolheu outro conterrâneo para suceder a nomes como Humphrey Bogart, Elliot Gould ou Robert Mitchum: Liam Neeson.

Neeson poderia ser demasiado velho para o papel (com 70 anos – e a celebrar aqui o seu 100º filme(!) -, Neeson não tem muito a ver com o durão Marlowe, que nos livros é quarteto), mas é, no entanto, a escolha perfeita para interpretar o detetive. Tudo porque, no passado recente, Neeson tem vindo a construir esta persona de action hero maduro, que casa bem com o detective privado Philip Marlowe. Só é pena que Neeson tenha desistido de se esforçar muito, limitando-se a ligar o piloto automático e a confiar sobretudo em a) a sua voz e b) a sua cara cansada de quem já não está para aturar merdas.

Como não poderia deixar de ser, Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa é um neo-nor. Afinal de contas, O Falcão de Malta, o filme de John Huston que adapta o romance homónimo de Raymond Chandler, é considerado o primeiro film-noir de Hollywood. Basta ver então a entrada de Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa: Marlowe mergulhado nas sombras das lâminas das persianas do seu escritório, fumando um cigarro, quando recebe a visita de uma nova cliente. Diane Kruger é uma loira bombástica, qual femme fatale, que lhe pede que encontre o seu amante desaparecido. Rapidamente, Marlowe é atirado para um thriller intrincado, cheio de secundários com esqueletos no armário, agiotas mexicanos, clubes nocturnos e polícias corruptos.

É inevitável olhar para Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa e não pensar em Chinatown, ou não fosse esse o molde de todos os neo-noirs. No entanto, falta ao filme de Neil Jordan a mesma elegância do argumento do filme de Polanski. Estão lá os elementos necessários todos, os diálogos são inteligente com tudo o que é dito nas entrelinhas, mas, no final, Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa limita-se a seguir de A para B, de B para C e assim sucessivamente até chegar ao ponto final, onde todo o novelo se desenvencilha.

Não há propriamente nada de errado em Marlowe – O Caso da Loira Misteriosa (como poderia haver, num filme que tem Liam Neeson, Diane Kruger e Jessica Lange – e, claro, a nossa nova coqueluche hollywoodesca, Daniela Melchior), mas a verdade é que não há nenhum golpe de asa que o faz descolar. Por vezes não é preciso muito mais do que uma realização eficiente, mas no caso do detective privado Philip Marlowe esperamos mais do que os simples serviços mínimos. O Cheeseburger não ofende, mas sabe a pouco.

Título: Marlowe
Realizador: Neil Jordan
Ano: 2022

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