| CRÍTICAS | Quicksand

É só uma ideia começar a criar o mínimo burburinho na internet que Hollywood arrebita logo as orelhas. Não importa o quão parva é. O quê?, o pessoal do reddit está a ficar maluco com a história do urso que morreu com uma overdose de coca? Faz-se já um filme! Hum?, a malta gosta de ver vídeos de bolos hiper-realistas no TikTok e tentar adivinhar se são reais? Produz-se já um concurso sobre isso. Com tudo isto, só não se entende como é que não há mais filmes com gatos…

Recentemente começou a circular pela rede um meme que dizia I honestly thought quicksand would be a bigger problem e isso despertou uma série de memórias nostálgicas à maioria do pessoal. De facto, nos anos 80, não havia aventura que se prezasse que não tivesse uma cena com umas areias movediças. Porque é que se perdeu isso? O facto de ser um obstáculo ridículo não é desculpa. Por isso, depois de O Predador – Primeira Presa já ter uma cena grande com areias movediças, eis chegada a altura de um filme interinho dedicado ao tema.

Quicksand é então a história de um casal, Sofia (Carolina Gaitan) e Josh (Allan Hawco), que ficam presos numas areias movediças algures na floresta tropical colombiana e necessitam de escapar. E como é que se faz um filme inteiro sobre isso? Da mesma forma que se faz um filme inteiro sobre estar enterrado vivo (olá Enterrado) ou a conduzir um carro em direcção a casa (olá Locke): com muita imaginação e bullshit. Sofia e Josh estão-se a divorciar e, por isso, há uma química estranha entre ambos que vai fazer com que aquele tempo, ali parados a olhar um para o outro, funcione quase como terapia. E depois há cobras venenosas, formigas e mais um par de momentos xunga pouco desenvolvidos e mal escritos.

Além disso, Quicksand ainda enche mais uns bocadinhos com uma abertura com uns caçadores que, sob uma música assustadora, caçam algo na mesma floresta antes de desaparecerem nas areias movediças. O que é que eles estavam a caçar? Ninguém sabe. Porque estavam tão assustados? Também ninguém sabe. Para que serve então essa cena de abertura? Só para nos lembrar que este é um filme de terror e que devemos estar assustados. Não é que Quicksand seja propriamente assustador, mas o realizador Andreas Beltran quis tentar todas as cartas.

O surpreendente é que Quicksand consegue manter-se à tona, da mesma que Sofia e Josh sobrevivem. Ou seja, se não estrabucharem muito e se não fizerem muita treta, manter-se-ão à superfície, sem se afundarem naquela lama nojenta. Quicksand é o mesmo: mantém o low profile, tenta aproveitar ao máximo a relação entre os dois protagonistas e só quando já está num beco sem saída é que utiliza, em desespero, uma cena super xunga que envolve uma cobra a fazer de corda(!). Já vi Double Cheeseburguers bem piores e a pagar. Só não percebo é como é que, se ninguém sabia que havia areias movediças na Colômbia, como é que Josh havia lido sobre isso no guia de viagens. Mas ei, isso já é pensar em demasiado e Quicksand é para se ver com o cérebro desligado.

Título: Quicksand
Realizador: Andreas Beltran
Ano: 2023

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