| CRÍTICAS | Guardiões da Galáxia – Volume 3

O primeiro Guardiões da Galáxia foi uma pedrada no charco. O filme de James Gunn, que trazia a escola toda da série b descomplexada e descontraída, veio reanimar o género do filme de super-heróis, que estava a tornar-se numa múmia cada vez maior e mais rígida, difícil de se movimentar. Não é que tenha mudado muito desde então, mas pelo menos surgiu um novo tipo de filmes de super-heróis e James Gunn – seguido logo a seguir por Taika Waititi ou mesmo por Peyton Reed – tornou-se no tipo. De tal forma que, mesmo tendo ido fazer um filme à DC (o seu O Esquadrão Suicida é precisamente uma versão do outro lado do espelho destes Guardiões da Galáxia), Gunn acabou por ser readmitido pela Marvel para terminar esta trilogia.

O problema é que este Guardiões da Galáxia – Volume 3 já tem muito pouco a ver com o primeiro Guardiões da Galáxia. Quer dizer, os personagens continuam a ser os mesmos (desta vez há Adam Warlock (Will Poulter), que é a principal novidade deste filme) e o principal tema continua a ser a amizade e a família (principalmente na óptica daquela máxima que diz que os amigos são a família que escolhemos), mas Guardiões da Galáxia – Volume 3 é o tradicional filme da Marvel, que obedece a uma lógica de acumulação. O argumento vai inchando à medida que passa com mais criaturas, explosões, destruição e poderes especiais, sem que haja propriamente uma história para seguir. Esta adapta-se antes a esta estratégia de engrandecimento, como se fosse sendo escrita ao mesmo tempo que o filme decorre.

É por isso que Guardiões da Galáxia – Volume 3 nem sequer tem um vilão em condições. O filme, que se foca especialmente na origem do guaxinim Rocket (voz de Bradley Cooper), tem como mauzão principal o Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji), um tipo que é uma mistura de deus enlouquecido com o doutor Moreau da ilha homónima, mas que acaba por se resumir a um tipo que grita muito de olhos esbugalhados. Há ainda cameos de Sylvester Stallone, Maria Bakalova a dar voz ao cão soviético Cosmo e um Groot mais alto e mais forte, mas tudo isso acaba por se desvanecer por entre essa acumulação toda. James Gunn parece um daqueles hoarders da televisão, que não consegue parar de colocar mais e mais coisas dentro do filme, até já ninguém se conseguir mexer mais. E cada cena do filme parece uma versão estendida da cena da cantina do Star Wars – Uma Nova Esperança, mas com mais (e mais) criaturas.

Até aquilo que tinham sido as principais armas do sucesso de Guardiões da Galáxia deixam de funcionar aqui. A banda-sonora, desta vez 100 por cento diegética, continua a ser uma colecção de hits irrepreensíveis de várias décadas (de Alice Cooper aos The The), mas é mais ilustrativa do que outra coisa; e o humor nunca tem muita graça e até inclui duas piadas com cocó. Os filmes anteriores não costumavam ser assim tão básicos, pois não?

Isto significa que este Guardiões da Galáxia – Volume 3, que encerra um ciclo e abre a porta a uma nova fase do grupo de heróis mais alternativo da Marvel, é um filme cansado, que parece repisar várias das suas próprias pegadas em busca do sucesso passado. Nunca há nenhuma cena verdadeiramente nova ou original, mesmo que haja uma nave feita de matéria orgânica que faz com que os heróis pareçam estar no Era uma Vez o Corpo Humano ou uma versão alternativa da Terra com criaturas de peluche. E, no final, termina com tudo a dançar Florence + The Machine. A sério? Não é isto o equivalente às novelas, quando acaba tudo a casar? Este Happy Meal é o pior dos filmes de James Gunn até há data.

Título: Guardians of the Galaxy Vol. 3
Realizador: James Gunn
Ano: 2023

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