| CRÍTICAS | A Verdade Escondida

Robert Zemeckis sempre foi um realizador mais interessante com filmes juvenis e de carácter lúdico, do que com um cinema mais sério. Não quer dizer que O Náufrago ou Contacto sejam maus filmes, mas nada têm a ver com os Regresso ao Futuro ou o Forrest Gump. E nem é preciso para as obras-prima. Um Em Busca da Esmeralda Perdida ou mesmo Beatlemania dão 15 a zero a qualquer Aliados ou Decisão de Risco.

A excepção que confirma a represa será A Verdade Escondida, o filme que em que Zemeckis fez de Alfred Hitchcock (ou melhor, fez de Brian De Palma, que no fundo é a mesma coisa). Obviamente que não é um filme que faça sombra aos melhores trabalhos do mestre, mas é possivelmente o melhor dos seus filmes adultos.

A Verdade Escondida começa por ser um thriller todo hitchcockiano. Michelle Pfeiffer é uma mulher comum que está no sítio errado à hora errada: depois da filha ir estudar para a universidade e passar demasiado tempo sozinha em casa, Pfeiffer dá conta das queixas da vizinha e de possível violência doméstica. Contudo, isso começa a mudar gradualmente para o thriller psicológico à medida que começam a manifestar-se fenómenos sobrenaturais em casa e a surgirem aparições fantasmagóricas.

Michelle Pfeiffer começa a vacilar, entre a lucidez e a paranóia, e também nós começamos a duvidar se o que estamos a ver é real ou apenas fruto da sua cabeça. E Zemeckis vai divertindo-se em explorar esta dualidade, recorrendo sempre que possível a plenos tão inesperados quanto desconcertantes, que abusam dos reflexos e das transparências. Hitchcock (e De Palma) ficaria orgulhoso. No final, o argumento revela-se um pouco frágil para tanta cambalhota, coincidência e verdades escondidas, mas Zemeckis monta um óptimo McBacon, com a ajuda de duas estrelas maiores – Pfeiffer e Harrison Ford.

Título: What Lies Beneath
Realizador: Robert Zemeckis
Ano: 2000

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