| CRÍTICAS | Stoned – Anos Loucos

Brian Jones faz parte da história do rock e da cultura popular por vários motivos, relacionados entre si, é certo, mas todos bem diferentes. O que admira é que não seja mais conhecido. É que Jones, que foi um dos fundadores dos Rolling Stones – e o rockstar original, personificação do hedonismo e do deboche -, não só pertence ao Clube dos 27 (o infame grupo de músicos que faleceram precocemente com 27 anos), como a sua arte é alvo de várias teorias da conspiração. E quem não gosta de uma boa teoria da conspiração?

A versão oficial diz que Brian Jones morreu afogado na piscina da sua mansão vitoriana sob o efeito de comprimidos e muito álcool, enquanto que os paranóicos se dividem em dois grupos. Os mais hardcore acreditam que os próprios Mick Jagger e Keith Richards encomendaram o seu assassinato, sabe Deus porquê; por sua vez, os mais razoáveis (lol) colocam as culpas em Frank Thorogood, o empreiteiro que andava a remodelar a sua casa e que pode ter agido por raiva 8Jones devia-lhe supostamente dinheiro) ou ter sido apenas um acidente no meio de uma festa com demasiados estupefacientes. Stephen Woolley, o realizador, pertence a este segundo grupo.

Stoned – Anos Loucos é assim um biopic muito levezinho pelos factos mais conhecidos da vida e obra de Jones, culminando com essa versão da sua morte. E a primeira coisa que se percebe logo é que Woolley, não só conhece vem a história (e as lendas) de Brian Jones, como é um tipo que gosta realmente dos Stones. Por isso, a sua reconstituição da época passa por mimetizar ao máximo as fotos e os vídeos conhecidos da banda, procurando actores que sejam sósias dos originais. Por isso, para quem conhece e é fã dos Stones, é giro ver a recriação de algumas das roupas irónicas (especialmente no caso de Jones, como aquela camisa com a bandeira dos Estados Unidos) e até uma interpretação bem esgalhada do Little Red Rooster a partir desta.

E, por falar em música, apesar de Stoned – Anos Loucos ser um filme low budget, sem orçamento para as canções originais, Stephen Woolley encontra uma forma original de contornar essa limitação: recorrer aos originais de blues que a banda tocava no início. Antes isso do que fazer um filme dos Stones sem música dos Stones, como fez Jimi – All is by my Side ou Stardust – O Nascer de uma Estrela.

Há ainda uma outra cena (e uma bela cena, diga-se) que mostra que Woolley é também um tipo do rock e sabe da poda. É uma sequência em que Thorogood (interpretado pro Paddy Considine) está a fazer umas obras no jardim da casa, ao som do Stop Breaking Down, do Robert Johnson, e, quando derruba um muro com uma marreta (e muita frustração acumulada pelas indecisões de Brian Jones), a banda-sonora muda automaticamente para a versão dos White Stripes, electrificada e mais cheia de raiva.

Infelizmente, o que Stephen Woolley parece não dominar muito bem é a arte de fazer filmes. Stoned – Anos Loucos nunca escala à lógica de acumulação de cenas, que passam por todos os momentos conhecidos e importantes da carreira de Jones, como se alguém se tivesse limitado a ler a sua entrada na Wikipedia: os Stones, o encontro com Anita Pallenberg, a banda-sonora perdida de A Degree of Murder ou os Masters Musicians of Jajouka no deserto marroquino. Além disso, sempre que é possível, Woolley não só opta por insistir num cliché do género, como faz questão de o sublinhar a traço grosso. É necessário introduzir Jones às drogas? Usa-se o White Rabbit e uma montagem trippy. É preciso mostrar Mick Jagger como um tipo racional e homem de negócios em oposição ao aluado e drogado Jones? Metam sempre grandes planos da sua cara pensativa quando existem planos de grupo com toda a banda.

Stoned – Anos Loucos é assim um filme com pouco cinema lá dentro, mas que é claramente um trabalho de amor. Aliás, Stephen Woolley nunca realizou mais nada na vida, ele que é sobretudo um produtor bem sucedido. Por isso, Stoned – Anos Loucos é um cheeseburger unicamente dirigido a maluquinhos dos Stones e do rock n roll dos anos 60 em geral. Esqueçam o filme biográfico, o true crime movie ou o thriller conspiratório.

Título: Stoned
Realizador: Stephen Woolley
Ano: 2005

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *